A verdade não é papinho de intelectual caviar

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A ignorância dos súditos do presidente Jair é tão acentuada que chega a me chocar. Uma pessoa, que lê este blog, e que existe, mas não sei quem é pois ela se esconde atrás de um nome fictício, Ana Clara, novamente vem demonstrar uma certa intimidade comigo, me chamando a atenção com estas palavras: “Deda, pergunte para o seu irmão médico se ele reclamava daquela época…Seus pais no açougue reclamavam? Alguém da sua família foi presa ou torturada nessa época? (…)”

Primeiramente, o estrago causado aos familiares dos 434 brasileiros que morreram ou desapareceram nas mãos do Estado no período da ditadura militar no Brasil, além deles próprios, é uma dor minha. Assim como dói em mim os que sumiram na Argentina, Chile, Uruguai e toda latino-américa. Isso se chama empatia. Sentimento que o presidente Jair não tem e seus súditos menos ainda.

Mas, dando diretamente as respostas das questões da pessoa que se esconde atrás do pseudônimo Ana Clara, em casa, assim como em todas as casas da Vila Santana, assim como nos encontros na Igreja Santa Rita ou clube Estrada, locais onde passei a maior parte de minha infância e adolescência, sempre prevaleceu o silêncio. Nada era dito. Apenas olhares e expressões que significavam que nada deveria ser falado, perguntado e muito menos reclamado.

Se todos andávamos a pé ou de ônibus, não deveria se perguntar o motivo de não ter carro. Estava incutido em nós que a responsabilidade era nossa, daquela família, que se mostrava incapaz de avançar. Se tinha dias que o açougue do meu pai não funcionava, a culpa era dele que não queria “empurrar” para sua freguesia, pessoas da sua amizade, em sua maior parte, a carne de vaca que o marchant enviava para ele vender. Ou pegava e vendia carne de vaca como se fosse de boi ou não recebia carne de boi para vender. E meu pai preferia não pegar carne de vaca. E preferia o silêncio. Quando ele perdia a paciência, e explodia, minha mãe cumpria o papel dela de botar ordem e calma. Então pessoa que se esconde atrás do nome Ana Clara, ninguém reclamava de nada em casa, apenas engolia o “maravilhoso” modelo de vida imposto a nós.

E deprecio de sua fala, pessoa que se esconde atrás do nome Ana Clara, que o mesmo ocorria em sua casa, pois você afirma: “Éramos felizes e não sabíamos. Respeito, disciplina. Hoje são os mesmos corruptos presos naquela época. Meus familiares, avó, pai, tios…ninguém reclamava/reclamavam daquela época…mas o fumeirinho da esquina com 23 anos reclama. Papinho de esquerdistas…papinho de esquerdopatas…papinho de intelectual caviar…papinho de derrotados…”

As ditaduras militares na América Latina são eventos traumáticos, pessoa que se esconde atrás do nome Ana Clara. E seu discurso é a prova disso. É tão traumático que você não consegue nem perceber o quanto ele afetou sua família, você e seus descendentes.

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