Entenda a relação entre Goldman, a Toyota e Sorocaba

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Quando a montadora Toyota decidiu ter sua terceira fábrica no país, em meados de 2007, Lula era “o cara”, o Brasil era a “bola da vez”, Renato Amary e Vitor Lippi brigavam para ver quem seria o candidato do PSDB na eleição municipal (um queria ir para a reeleição, como acabou indo, e outro queria voltar) e o governo de São Paulo havia convencido os japoneses de que estava em nosso estado as vantagens comerciais, econômicas e financeiras para a instalação da sua nova unidade no país.

E dentre as várias cidades possíveis, após uma queda de braço gigante, ficaram duas finalistas: De um lado, Piracicaba, governada pelo tucano Barjas Negri amigo do então governador José Serra – lembrem-se que quando Serra deixou o Ministério da Saúde foi Negri quem o substituiu como ministro – e de outro Sorocaba, a cidade de Flávio Chaves, sim o ex-prefeito, ex-deputado, ex-presidente da extinta Caixa Estadual e atual secretário de Relações Institucionais (dos prefeitos Crespo e agora Jaqueline Coutinho) que à época voltava a ser o braço direito do vice-governador do Estado e secretário estadual de Desenvolvimento (antiga Ciência e Tecnologia) e que nos anos seguintes aquele da tomada de decisão da Toyota viria a ser, inclusive, o governador e, depois, na sucessão, novamente secretário de Estado.

Falo de Alberto Goldman, o judeu, como era chamado pelos amigos. Goldman morreu ontem, domingo, aos 81 anos de idade. Foi o primeiro brasileiro com descendência judáica a governar o Estado de São Paulo em toda a história.

Cidade por cidade, benefício por benefício, qualidade por qualidade, peso político por político Piracicaba e Sorocaba estiveram equivalentes até a decisão final da Toyota. Se Serra tivesse se mantido no comando do Estado, talvez, nunca saberemos, a Toyota tivesse ido a Piracicaba. O fato é que Goldman fez pender para Sorocaba a decisão da Toyota vir para cá. Obviamente que há o peso político do prefeito Lippi, então já reeleito para o cargo, igualmente do governador Alckmin que já havia sucedido Goldman na urna e de tantas outras lideranças que trabalharam para que se concretizasse a vinda da Toyota. Todos com seu valor.

O fato é que no dia de sua morte eu não podia deixar de lembrar essa história de Goldman e Sorocaba.

Há tantas outras histórias que envolvem esse batalhador da democracia, um ícone da história política brasileira. Goldman começou no Partido Comunista, foi ao MDB, do MR8 e enfim ao PSDB onde se tornou uma das lideranças nacionais. Ultimamente seu protagonismo estava em ser o antagonista de Dória, o novo protagonista do partido. Seu prazer era, publicamente, fustigar o governador. Nada que impedisse, porém, Dória de reconhecer sua importância para a vida pública brasileira, para o Estado, e decretar luto oficial por três dias.

Eu estive com Goldman algumas vezes. Quase sempre para entrevistas. Mas, na última delas foi por mero acaso. Estávamos juntos na fila do cinema, no Belas Artes, na Consolação, em São Paulo, há uns dois anos. Sendo ele famoso, puxei papo sobre o momento político nacional e ali ele preconizava um Brasil dando uma guinada ao conservadorismo. Quando a fila começou a andar e íamos nos despedir, disse-lhe que era de Sorocaba. Então ele me falou, sorridente: a terra de Flavinho! E eu falei, do Flávio Chaves? E ele, sim, Flavinho é muito querido, amigo meu…

Goldman estava internado desde o dia 19 de agosto na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Sírio-Libanês após passar mal e se submeter a uma cirurgia no cérebro como parte do tratamento de um câncer neuroendócrino na região cervical. Goldman passou mal durante o exame e uma tomografia constatou sangramento no cérebro. Goldman foi submetido a uma cirurgia no mesmo dia da internação, mas seu estado de saúde piorou. Ele morreu no dia 1ª de setembro, foi velado na Assembléia Legislativa de São Paulo e sepultado no Cemitério Israelita do Butantã.

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