Eu fui um péssimo professor

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No começo deste ano, eu decidi manter amizade virtual apenas com pessoas que eu sei que de fato existem, que alguma vez na vida eu tenha tido algum tipo de contato, que falando o nome eu associe a algum fato de minha vida.

Com essa decisão, eliminei uma série de pessoas inconvenientes por expressarem diariamente sua burrice. Recentemente, decidi também bloquear pessoas que eu sei quem são e para minha tristeza são idiotas.

Suspendi as publicações de algumas dessas pessoas no meu feed de notícias por 30 dias. Depois decido se vou cancelar cada uma delas de vez. São pessoas que eu sei quem são, ou seja, atende ao meu critério de amizades e não ao critério do Facebook.

Ao suspender essa pessoa, liguei para um amigo em comum e desabafei: Mano, não aguentava mais as imbecilidades que fulano postava, agindo como replicador das mentiras dos ideólogos do Bolsonaro. Tá suspenso. Vou ver de cancelo. E esse amigo gargalhou no telefone. Eu quis saber o motivo e ele me indagou:

– Não se lembra? Você é o ídolo dele.

– Eu, como assim?

– Lembra que ele mandou um email às três da manhã se manifestando contrário a algumas normas novas do Bom Dia?

– Não lembro, respondi. E lembrei a ele que um outro amigo em comum diz que eu não me lembro de mais nada. O que é verdade. Por algum motivo, alguns fatos somem de minha mente.

– Lembra que ele mandou o Matinas para aquele lugar e falou que você era o ídolo dele, que havia sido professor dele na universidade?

– Ah… lembro qualquer coisa a respeito, disse sem convicção alguma.

– Então… esse xarope é aquele que já era xarope e gostava de você, sentenciou o meu amigo.

É constrangedor ver que ex-alunos seguem Bolsonaro como se ele tivesse sido bom ou pudesse vir a ser para nossa sociedade. Uma ex-aluna, essa no Ensino Fundamental, e depois na Faculdade de Jornalismo, é tão limitada que acredita que o fanatismo evangélico dela é diferente do Talibã e usa o golpe ocorrido agora no Afeganistão como desculpa para apoiar o golpe que o Bolsonaro e seu perigoso exército (formado por Sérgio Reis, Rodrigo Constantino, aquele que foi editor da Veja, aquele outro que foi assessor do Geisel) praguejam, praguejam, praguejam, praguejam… diariamente. A ex-mulher de um amigo jornalista já falecido é outra militante que suspendi por 30 dias.

Me intoxica abrir o feed (foto) e ler apoios a quem não tem empatia, é responsável pelo atraso na vacina que poderia ter salvado 550 mil brasileiros da morte, propaga mentiras e fala sobre assuntos que não faz idéia do que seja.

Me distanciar deste veneno tem sido bom para minha saúde mental. Mas é passageiro este sentimento, afinal o que tenho feito é apenas colocar a sujeira embaixo do tapete. Eu sei que a sujeira existe e está lá assim como eu sei que esses amigos, e até parentes, que um dia passaram pela minha vida, seguem dando respaldo a esse idiota, perverso, manipulador.  Dando respaldo a quem é o responsável pela abrupta derrubada do poder de compra do salário de qualquer trabalhador, da subida no preço do botijão de gás e litro da gasolina, da impossibilidade de se comprar 1kg de carne, mesmo de segunda e moída que já está batendo nos 40 reais, algo superior a 7 dólares.

Minha conclusão: Só posso ter sido um péssimo professor para que meus ex-alunos sigam, bovinamente, este presidente (eleito democraticamente) cujos os propósitos estão longe de ser cristão, ou seja, o de atender aos mais necessitados.

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