Morre Antunes, um carpinteiro que extraía a personagem do ator

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Para quem não é do meio teatral, a morte do diretor de teatro José Alves Antunes Filho, conhecido simplesmente como Antunes Filho, na noite de quinta-feira (2 de abril) não teve impacto algum. Pior, vejo que nem sabiam quem era. Gente que deveria saber, como jornalistas, por exemplo, afinal Antunes é um dos principais nomes do teatro brasileiro. Repito: É um dos principais nomes e não foi. No presente. Para sempre. Antunes está na história. Seu legado frutifica e certamente frutificará nas montagens, nas direções, na construção da personagem que vem do âmago do ator. Antunes, um carpinteiro que extraía de dentro do ator a personagem que dava vida às peças.

Tentei achar uma entrevista que fiz com Antunes e foi publicada no Mais Cruzeiro, então um suplemento cultural do Cruzeiro do Sul, na década de 90 (nem o ano me lembro), mas não achei. Não me lembro sobre o que foi a conversa, mas tenho muito presente a sua atenção e preocupação com a conversa que foi pelo telefone. Ele não quis naquele momento deixar escapar a oportunidade de chegar perto das pessoas, de despertar, quem sabe numa resposta, as potencialidades que o leitor nem sabe que tem dentro dele. Essa é magia das conversas e uma entrevista ping-pong como a que fiz com ele é isso, uma simples conversa, uma possibilidade.

Aos 89 anos, ele seguiu firme a frente CPT (Centro de Pesquisa Teatral), no Sesc, uma espécie de escola de formação e grupo teatral por onde passaram importantes nomes do teatro nacional (Luís Melo, Giulia Gam, Alessandra Negrini, Camila Morgado, Laura Cardoso, Eva Wilma, Raul Cortez, Cacá Carvalho, Stênio Garcia, Denise Stoklos…), até ser internado no Hospital Sírio-Libanês no último dia 22, após sentir um mal-estar. Depois de passar por exames, o diretor descobriu estar com câncer de pulmão em estágio avançado.

Sua última montagem foi a peça “Eu Estava em Minha Casa e Esperava que a Chuva Chegasse”, texto do francês Jean-Luc Lagarce que conta diferentes histórias (a partir do talento de Antunes Filho) a partir de um simples roteiro: cinco mulheres na espera do retorno do filho de uma delas, que havia sido expulso de casa pelo pai.

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