O outro lado do email vazado

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A vice-prefeita Jaqueline Coutinho compartilhou em sua página de rede social, no final da tarde de segunda-feira, o conteúdo de um email atribuído ao prefeito Crespo, que ele teria enviado aos seus secretários, com orientações de como eles devem atender aos pedidos dos vereadores. Dos 20 vereadores, há exceção apenas para o atendimento a dois deles: Rodrigo Manga (DEM) e Hudson Pessini (MDB). Há, também, exceção, para o atendimento dos pedidos da vice-prefeita. Essas exceções significam que necessariamente esses pedidos, antes de serem atendidos, teriam de passar pelo prefeito. Outros apenas pelo secretário de Relações Institucionais, Flávio Chaves.

O compartilhamento do email gerou, de modo discreto, uma tentativa de funcionários ligados ao prefeito em tentar descobrir quem vazou o email uma vez que ele teria sido emitido pelo prefeito à caixa postal pessoal dos secretários. Ou seja, o vazamento teria partido de alguma pessoa de estrita confiança.

O compartilhamento também gerou o esboço, também de modo discreto, de indignação de assessores dos dois vereadores citados e da vice. O próprio compartilhamento feito pela vice é indicativo de que ela desgostou do que viu.

E, por fim, a assessoria de comunicação do prefeito Crespo disse que o tal email trata-se “de uma informação falsa. Tal e-mail não foi emitido pelo chefe do Executivo”.

Perguntas sem respostas

Tal divulgação gera perguntas e espero que os envolvidos deem as respostas:

O que ganhou o prefeito em negar que tenha enviado tal email?

Entendo que ele deveria assumir como sendo seu e colher os louros que brotam do email.

Quais?

O primeiro deles: limitar o atendimento aos pedidos da vice. É óbvio que seja assim, eles se transformaram em adversários, quicá inimigos. Há movimentação de ambos os lados para que um prejudique o outro. Portanto, o óbvio é o que está no email: como dono da caneta, quero decidir pessoalmente o que a vice pedir. Tudo absolutamente certo nisso.

Em segundo lugar, dos 20 vereadores, 18 têm tratamento igualitário, entre eles os 4 que ideologicamente são contrários. PSOL, PT e PC do B estão orientados a receber o mesmo tratamento que os colegas dos partidos que apoiam o governo. Iara Bernardi, a vereadora decana da oposição, comeu o pão que o diabo amassou em administrações de Flávio Chaves, Paulo Mendes e Pannunzio.

Em terceiro lugar, o que leva o prefeito a querer decidir pessoalmente sobre os pedidos de Manga e Pessini? Críticas não são, afinal Péricles Régis, seguramente, o mais crítico dos vereadores a Crespo, não recebeu nenhum tipo de cuidado para o atendimento dos seus pedidos. Quer mais crítica do que faz Fernanda Garcia do PSOL e França do PT, inclusive, indo ao Ministério Público contra ações do prefeito e mesmo assim ele não pede nenhum cuidado aos dois no email. Ou seja, há algo que Manga e Pessini fizeram (ou fazem), além de críticas, que requerem respostas. O que é prefeito?

Fosse eu Manga ou Pessini e usaria do expediente Requerimento (pedido oficial e recheado de regras da legislação) para questionar o prefeito sobre essa diferenciação no tratamento deles. No mínimo, chama a atenção. Não é verdade?

O que há de diferente

De todo o conteúdo do email, o que há de diferente entre a gestão de Crespo e dos prefeitos que já comandaram a prefeitura de Sorocaba é o fato dessa orientação ter sido escrita e enviada por email. Todos os outros falavam, mandavam, davam ordens, mas não documentavam esses pedidos. Crespo documentou. Em comum, o atual e os prefeitos anteriores negam (e negaram) que haja restrição para um ou outro vereador. E todos sabem que houve, há e vai haver. É da regra do jogo político.

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