O transporte público ruma ao colapso em Sorocaba porque não atende às necessidades dos usuários. Mas CPI do Transporte chega ao final sem fazer uma única citação sobre isso

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Os vereadores da Câmara de Sorocaba foram exemplares em reunir dados que demonstram o que qualquer usuário – ou melhor, qualquer cidadão que tenha o desejo de ser usuário do transporte público, como eu, fato que afirmei pela primeira vez em março de 2013 na coluna O Deda Questão no Jornal Ipanema (FM 91.1Mhz) – sabe há tempos: o transporte público ruma para o colapso.

A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Transporte deu números ao sentimento de colapso: O transporte coletivo urbano de Sorocaba perdeu mais de 9 milhões de usuários, que caíram de 57 milhões, em 2015, para 48 milhões, em 2017, o que representa uma perda financeira de mais de 40 milhões de reais.

Presidida pelo vereador Renan Santos (PCdoB) e tendo como relator o vereador Hudson Pessini (MDB), a comissão entregou o relatório de seu trabalho de seis meses na sessão de hoje na Câmara de Vereadores e será encaminhado ao Ministério Público.

“Foi uma CPI atípica, devido à complexidade do tema, com calhamaços de planilhas. Contamos com a ajuda de uma assessoria técnica” – enfatizou Renan Santos. E essas planilhas resultaram em números: Houve redução da frota, que caiu de 421 veículos, em 2015, para 380 veículos, em 2017; A idade média da frota também subiu de 4,2 anos, em 2015, para 5,53 anos, em 2017, o que representa um envelhecimento de 31% nos últimos dois anos.

Enxurrada de opiniões

E esses números em opiniões, como a de Hudson Pessini: “As empresas estão preocupadas com o lucro e não investem na qualidade do transporte público nem na quantidade dos carros à disposição”; “As empresas não ficam no prejuízo. A Urbes é uma grande mãe das empresas. O prejuízo delas é compensado pela Urbes, através do subsídio”;  “Esse é um ponto central a ser encaminhado para análise do Ministério Público”.

O vereador José Francisco Martinez (PSDB) indagou sobre o caixa único e quis saber se ele sustenta o sistema. Hudson Pessini esclareceu que o que mantém o sistema é, sobretudo, o suonbsídio pago pela Prefeitura, que, no ano passado, chegou a R$ 61 milhões. “Sorocaba tem a passagem mais cara do Brasil e um dos maiores subsídios. As empresas não investem no transporte, que perde qualidade e, com isso, perde passageiros, gerando um círculo vicioso”, afirmou; “Que as empresas corram atrás do usuário, oferecendo linhas rápidas, com ar condicionado, acesso a USB”, afirmou Renan dos Santos.

Recomendações

O presidente da CPI também lembrou que, por recomendação do TCE (Tribunal de Contas do Estado), o sistema de transporte público de Sorocaba deixou de usar o pagamento das empresas por quilometro rodado para adotar a tarifa técnica, mas, ao fazer essa transição, foi utilizada uma nova fórmula que embutiu, de certo modo, os custos anteriores, o que, segundo ele, precisa ser melhor examinado.

A CPI recomenda, ainda, que sejam licitados todos os lotes do sistema de transporte coletivo em 2019, ano em que vence o lote da Consor. Renan Santos também disse que a “Urbes é uma mãe para as operadoras”. Renan Santos ressaltou o trabalho de todos os membros da CPI, “que vasculharam a caixa preta que é a Urbes” e disse ter muito orgulho dos trabalhadores da Urbes, mas lamentou a dificuldade para conseguir informações na empresa.

Não foram ao ponto

Tarifa mais barata e ônibus com ar condicionado e wifi, obviamente, que ajudam. Mas o passageiro fugiu e seguirá fugindo do transporte de ônibus porque 1) o ônibus não vai de um ponto ao outro numa linha reta, mas faz zigue-zague dentro dos bairros; 2) o ônibus não passa no momento em que o usuário deseja (dai ele usa moto, bicicleta e Uber ou vai a pé); 3) os ônibus são do mesmo tamanho que eram na década 80 quando a frota de Sorocaba tinha perto de 200 mil carros nas mesmas ruas onde hoje estão mais de 400 mil, ou seja, os ônibus não são ágeis e desenvolvem velocidade média de 40km/h (um chute alto, ainda); 4) é absolutamente desconfortável entrar ou sair de um ônibus; 5) é insano ter que ir de qualquer ponto até um terminal para somente então poder ir ao destino final – em 1989 isso fazia muito sentido, mas hoje, em pleno século 21 não faz nenhum.

Excelente o trabalho da CPI dos Transportes para reunir dados que sustentam o que eu já avisei em 2013 (sem querer ser pedante, apenas para contribuir como fato de que havia dito que o transporte ruma ao colapso). Por outro lado, o resultado da CPI é também capenga e falho no que diz respeito a ouvir o usuário que é quem sabe o que é preciso para que ele não deixe de andar de ônibus e, principalmente, o que fará ele voltar a usar o ônibus preferencialmente. Uma pena. Poderiam estender os trabalhos por mais 6 meses e oferecer um diagnóstico bastante preciso do que fazer. Oportunidade desperdiçada.

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