Um cachorro morder um homem não é notícia. Mas um homem morder o cachorro, é. Passa dos limites a promoção que a imprensa está fazendo do cão que ficou ao lado do cadáver do seu dono em Sorocaba. O desprezo pela causa da morte de um homem e pela reação do filho do morto que apedrejou o caminhão que matou o pai ficaram em completo segundo plano. Humanizaram o cachorro e se esqueceram do homem. Sintomática isso

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O comportamento de um cachorro vira-latas, que ficou junto ao cadáver do seu dono embaixo das rodas de um caminhão na Vila dos Dálmatas em Sorocaba, passou a ganhar mais espaço e destaque na imprensa sorocabana (a TV Record promete levar o caso a outros rincões) do que o homem. A imprensa “humanizou” o cão (no facebook cheguei a ler postagem de uma jornalista dizendo que essa é a prova de que os cães são seres superiores, iluminados ou algo assim) elevando-o a um patamar maior do que ele é, ou seja, apenas um cão. A mesma imprensa desprezou o que há de humano nesta tragédia do cotidiano: 1) um pai de família alcoólotra; 2) um filho revoltado que apedrejou o caminhão que matou o pai; 3) o drama da droga (neste caso uma lícita) que destrói pessoas dia após dia.
Ainda bem que ninguém caiu no clichê de fazer a óbvia ligação deste caso sorocabano com o filme “Sempre ao seu lado” (refilmagem de Hollywood de 2009 de um filme japonês de 1987), estrelado por Richard Gere. A história do filme (baseada em fatos reais) sim justifica a máxima das primeiras aulas de jornalismo onde o professor, na dura tarefa de ensinar seus jovens pupilos sobre o que é, afinal, notícia, fala: Um cachorro morder um homem não é notícia. Mas um homem morder o cachorro, é.
E, cá entre nós, alguém precisa ler no jornal algo que reforce o ditado que “o cachorro é o melhor amigo do homem”?

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