Usuários de drogas, desocupados e moradores de rua roubam a cidade dos seus cidadãos e as autoridades fingem que está tudo bem

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A entrevista que o repórter Rubens Maximiliano fez com Joel, morador há mais de 40 anos no bairro Vila Rica em Sorocaba, na manhã desta quinta-feira no Jornal Ipanema (FM 91.1Mhz) é daqueles momentos reveladores do momento pelo qual passa a sociedade. E, na coluna O Deda Questão, fiz questão de chamar a atenção para este momento dramático pelo qual passa Sorocaba: usuários de drogas, desocupados e moradores de rua roubaram a cidade do cidadão e, pior, as autoridades (Polícia Civil, Militar e Prefeitura) seguem senão inertes, ao menos conivente com a situação.

Roubaram a cidade do cidadão

A humildade do morador da Vila Rica, durante entrevista, foi tocante. Ela foi feita do lado de fora de um galpão abandonado (local que sediou uma transportadora e aparece na foto). Registro duas frases dele: 1) essa turma não desfaz da gente; 2) não falo com eles (que invadiram o galpão) porque é pior.

Nas duas frases está embutido o sentimento de opressão.

Um cidadão tem que sentir-se à vontade no local onde mora. Isso é qualidade de vida. A sua cidade tem que ser um local onde ele possa circular do jeito que desejar sem ser importunado. Sentir medo é o pior que pode existir.

A grande farsa do regime militar, e isso é generalizado em qualquer localidade sob regime de exceção, é esse sentimento da fala das autoridades (está tudo bem) dissociado do que sente o cidadão (falar ou olhar para essa gente é pior…) que é medo.

Roubaram a Vila Rica dos seus moradores. Mas isso é generalizado e dezenas de ouvintes começaram a relatar casos no Wanel Ville, Vila Hortência, Barcelona, Centro…

Tema de Legislativo e Executivo

Uma questão abordada pelo prefeito Crespo na abertura do ano legislativo (leia postagem a seguir) foi o problema dos moradores de rua.

O vereador José Francisco Martinez questionou o grande número de moradores de rua no centro da cidade e sugeriu que o Centro Pop seja tirado das proximidades da rodoviária. José Crespo observou que não existe lei que permita a retirada das pessoas que estão nas ruas, salvo se elas praticam algum delito. E observou que há casos de outras cidades mandando moradores de rua para Sorocaba. Também foi lembrado, pelo vereador Rodrigo Manga, o grande número de moradores de rua que são usuários de drogas e álcool, devido, sobretudo, à política de desinternação dos pacientes psiquiátricos. Diante da proposta de se criar uma secretaria para enfrentar esse problema, Crespo adiantou que foi criado um núcleo de álcool e drogas, inicialmente, no âmbito da Cidadania.

Ineficaz e ineficiente

A Prefeitura de Sorocaba, a cada gestão com um nome, teve na administração dos prefeito RenatoAmary, Vitor Lippi e Pannunzio o Gabinete de Gestão Integrada, que se mantém no governo Crespo. Mas o vereador Hudson Pessini, líder do PMDB na Câmara de Sorocaba, lembra que em 13 meses de governo foram feitas apenas 2 reuniões.

É pouco. O tamanho do problema exige, quem sabe, duas reuniões por semana. É ineficaz e ineficiente um grupo que reúne autoridades das diferentes polícias e poder público conversar tão pouco.

Em razão da crise política do primeiro ano do mandato, onde houve a cassação do prefeito, a pasta de Igualdade e Assistência Social já está em seu quarto secretário. Não há gestão que funcione com uma rotatividade tão grande de quem é para comandar um problema que sempre existiu, mas que se acentua. Me lembro de ter me dedicado muito a esse tema na gestão Pannunzio, quando a secretária responsável era Edith Di Giorgi, médica. Ela tinha sérias divergências com João Leandro, secretário de Governo e comandante da Guarda Civil Municipal.

O fato é que o problema é debatido há 5 anos pelo menos, a crise social somente agrava a situação e a política de saúde mental também, uma vez que os internos que eram para ter ido conviver com a família foi despejado nas ruas da cidade.

Mas é urgente uma solução!

Leitor me acusa de higienista

Publiquei no dia 28 de dezembro de 2017 a nota “Qualquer semáforo de Sorocaba e o je vois tous les jour (Vejo todos os dias)” dizendo que a Prefeitura assiste passivamente a venda de mentos nos semáforos de Sorocaba.

Na oportunidade, o professor Marcello Fontes, professor da rede estadual de ensino de São Paulo, com formação em filosofia e forte influência da Igreja Presbiteriana em sua formação (conheço o Marcello há 30 anos pelo menos), me repreendeu duramente, sugerindo que eu desejo fazer uma faxina, ou seja, que eu sou um higienista e desejo “acabar” com quem está nas ruas.

Não é nada disso, obviamente. Mas é evidente que não se pode aceitar que o cidadão tenha sua dignidade e confiança de ir e vir roubados. E é isso o que está acontecendo.

Releia o que me diz o leitor: “Deda, você parece nutrir um incômodo quase patológico com os pedintes e agora também com os vendedores nos semáforos. Volta e meia volta a este tema. Por que isso te incomoda tanto? Me parece que essa questão mais te incomoda do que entristece, o que para alguém esclarecido como você é estranho. Sugere o que? A defenestração? A prisão? O exílio?

Marcello Fontes – professor em Secretaria da Educação do Estado de São Paulo – 30 de dezembro de 2017, 22 horas 31minutos.”

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