Quem se interessa em saber como “nascem” bandidos e mudar essa história

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Foi de susto e um certo mal-estar a minha primeira reação ao ouvir a certeza do prefeito Crespo sobre o fato dos bandidos serem mortos – leia a postagem anterior para entender.

Volto a dizer, Crespo foi pego de surpresa. Ele não estava no estúdio da rádio para dar entrevista, pois acompanhava o presidente do seu partido que é candidato a vice-governador na eleição do mês que vem. Mas era oportuno ouvi-lo e por isso agiu bem o jornalista Fábio Andrade em questionar o prefeito.

O fato é que a morte e a vida não são acontecimentos que devam estar sob a responsabilidade de quem tem o dedo num gatilho.

Durante a homenagem ao soldado Saulo, no gabinete do prefeito na tarde de hoje, gostei de ouvir do comandante da Polícia Militar, coronel Antônio Valdir, que não houve a intenção ou foi o objetivo do soldado Saulo matar ninguém, mas que a morte foi consequência da decisão dois assaltantes de terem reagido a voz de prisão. Gostei, também, em saber que será oferecido todo o amparo psicológico ao Saulo. É importante que ele, assim como qualquer policial, saiba que a farda, a arma e o fato dele estar investido de autoridade do Estado requerem responsabilidade sobre a vida de outra pessoa para a decisão de atirar.

Espero que alguma autoridade, que seja um deputado ou vereador, por exemplo, se interessem em saber quem são os dois mortos. Algo além do fato de serem Lucas Carlos Afonso, 23 anos, tinha registro na polícia por tráfico de drogas, e Steve Wender de Oliveira, 41, por danos ao patrimônio.

É importante que a sociedade saiba quem arrisca a vida, além dos policiais que estão em serviço, também, neste caso, dos dois mortos: eles tiveram colo quando bebês? Tiveram uma família presente? Tiveram atenção, acolhimento e sentimento de pertencimento na primeira infância?

Não estou defendendo bandido, entendam! Ao contrário, estou defendendo a vida, a sociedade e a compreensão de que a bandidagem só estará perto do fim se as pessoas tiverem o sentimento de pertencimento, primeiro dos pais, depois da família, da igreja, da escola. Se a sociedade não se preocupar com essas questões, novos bandidos continuarão nascendo. Não digo que isso acabe com a bandidagem. Obviamente que ainda assim haverá gente má, mas seguramente em grau bem menor.

Por fim, provoco: Enquanto o policial Saulo recebia o brasão de Sorocaba no Palácio dos Tropeiros, cercado pelas principais autoridades (prefeito, comandante da Polícia Militar, da Polícia Civil, representante da Câmara de Vereadores, secretários municipais, imprensa…) quem chorava a morte dos dois bandidos mortos?

Confesso que não me faz bem, pessoalmente, uma sociedade homenagear um policial sem ter a preocupação, na mesma proporção, em saber quem foram os mortos para tomar as medidas necessárias para que se evite que novos jovens caiam na criminalidade.

Ninguém é bom de nascença. Ninguém é mau de nascença. Ser do bem ou do mau não é genético, portanto. É cultural e sendo cultural toda a sociedade tem seu nível de responsabilidade, especialmente os governantes.

Há casos escabrosos de violência em Sorocaba: uma amiga, grávida de 7 meses, me contou o terror que passou sob a mira de uma faca de um rapaz que entrou no seu carro quando ela estava no semáforo da avenida Dom Aguirre, perto da ponte de Pinheiros, há duas semanas. Meu impulso ao ver o estado de fragilidade emocional da minha amiga, ainda abalada pelo risco que correu, era de matar quem fez isso. Ainda bem que é impulso e há racionalidade e há crença nas instituições do Estado para que isso se resolva. Não há outro caminho na civilização.

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