A decisão de suspender a veiculação em papel do jornal A Cidade de Ribeirão Preto mexeu com os ânimos de dirigentes sorocabanos de mídia impressa. E essa tendência, de fim do jornal em papel impresso, poderá provocar mudanças em Sorocaba. Dirigentes de publicações como o Cruzeiro do Sul têm discutido o tema internamente, as vezes com veemência, outras nem tanto. Outras publicações como Jornal Ipanema e Jornal Z Norte também estão refletindo sobre a viabilidade do jornal em papel impresso. Com visão mais segmentada, porém, há quem vislumbre futuro e sucesso para o jornal impresso. Esse é o caso do projeto de jornal Na Linha, tocado por profissionais que foram ligados ao jornal BOM DIA como o trio Marcelos: Duarte, Macaus e Claro.
Mas o que está por trás dessa mudança? A resposta a essa pergunta está diretamente ligada a duas questões imbricadas em uma: a mudança cultural do leitor (que hoje tem acesso à informação na palma das mãos) e a manutenção da importância da publicação, ou seja, a audiência, o nível de interesse que ela desperta no cidadão.
É preciso correr risco
A suspensão da veiculação em papel do jornal A Cidade de Ribeirão Preto foi uma decisão difícil, mas bastante ligada à realidade, me explica o jornalista Josué Suzuki, diretor de Jornais e Mídia da publicação, com quem tive o privilégio de dividir o comando do jornal BOM DIA, ele sendo o editor em Rio Preto e eu aqui em Sorocaba.
Acompanhe a nossa conversa:
Um amigo me fala que fechou o jornal aí. Confere?
Nós suspendemos o papel, mas estamos firmes no projeto digital. Uma rede de portais já presente em quatro cidades. Um projeto para ser grande. O endereço de acesso é https://www.acidadeon.com
O que levou a essa decisão?
Deda, não dava mais para tomar todo o tempo com o papel. Temos um projeto ousado no digital. O papel paga as contas, mas tem algo que a gente não coloca neste custo: o preço do nosso foco. Vou te dar um exemplo: teve um factual forte aqui e às 18h, quando a gente está pensando no fechamento da edição de papel do dia seguinte, a gente já havia dado 13 matérias no portal, 3 galerias de fotos, 7 vídeos e uma Live às 5h da manhã com 1.5 mil pessoas penduradas.
Não existe mais espaço para o analítico, a profundidade no papel?
Site também é lugar para analítico e profundidade. Estamos falando em uma rede de portais, não um site de uma cidade. Eu acredito que nós já somos a maior audiência do interior, juntando os quatro portais. Foi uma decisão arriscada. Mas sem correr risco não se faz nada.
Audiência está no digital
Nos Estados Unidos essa tendência de acabar com a publicação em papel continua. Nessa semana mais uma tradicional revista está dando adeus à edição impressa. A Condé Nast americana – que publica títulos como Vogue, Vanity Fair e The New Yorker – anunciou na semana passada que vai encerrar a edição mensal física da Glamour. A decisão nasceu com a escolha da jornalista Samantha Barry, vinda dos meios digitais, como editora-chefe da publicação. Apesar de o total de assinantes da Glamour ter ficado estável nos últimos anos – em 2,2 milhões de pessoas –, Samantha Barry defendeu o fim da edição impressa: “As audiências estão no digital e é lá que nosso crescimento está. A periodicidade mensal não faz mais sentido para os leitores da Glamour”.
Aprova a mudança
São centenas de jornais e revistas impressos que deixaram de circular nos Estados Unidos e no mundo ao longo da última década. No Brasil, aos poucos, essa tendência também se confirma.
Um dos pioneiros, em maio de 2017, foi o tradicional jornal Gazeta do Povo que deixou de circular impressa em papel jornal, que era entregue diariamente no endereço de dezenas de milhares de assinantes e em bancas da grande Curitiba e de cidades do interior e do litoral do Paraná. Desde então a Gazeta passou a circular exclusivamente em suas plataformas digitais, no endereço gazetadopovo.com.br na internet e em seu aplicativo para smartphones e tablets, e também numa edição semanal, impressa em papel de alta qualidade.
Pelo que se vê, a Gazeta do Povo está satisfeita com sua decisão e aprova a mudança feita, colocando fim à publicação de papel.