Fui ameaçado no começo da madrugada de hoje por um pedinte na bomba de gasolina do posto JC no cruzamento das avenidas Antônio Carlos Comitre, Barão de Tatuí e Washington Luiz, no bairro Campolim, na Zona Sul.
Parei o carro, ele se aproximou e pediu dinheiro, eu disse que não tinha.
O que imaginei que seria o fim do papo enveredou para um momento absolutamente tenso e desrespeitoso.
O homem, de boné, o que impedia de eu ver exatamente o seu rosto, aparentava ter por volta de 40 anos. Ele que estava perto de mim, e eu continuava sentado no banco do carro enquanto o frentista o abastecia, se afastou uns 2 metros e disse algo assim: “sorocabano é tudo igual, diz que não tem dinheiro para dar para a gente. Acontece que hoje tá aqui colocando gasolina, mas ninguém sabe se não vai cruzar comigo numa outra esquina”. E, enfático, me ameaçou, olhando para mim e para suas mãos que faziam gestos teatrais: “Eu vou cruzar com você e aí eu vou arrancar o seu coração e vou ficar com o seu coração pulsando na minha mão, bem perto do meu ouvido”.
Nesse momento um frentista comentou com o outro: nessas horas que dá vontade de ter uma arma. É pum e jogar ele no córrego, apontando para a bacia de contenção de águas na praça Kasato Maru, do outro lado do posto.
Minha reação primeira foi a de responder ao frentista dizendo: o problema de matar esse sujeito é que automaticamente você se torna um bandido, assassino.
Os frentistas não me responderam, mas deram a entender que quem ameaça não merece respeito.
Por um triz, me controlei com o pedinte. Ele, que não era nóia, e tinha bastante clareza da situação e de que me ameaçou, tratou de sair do posto e correu para o semáforo, abordando o motorista da vez por uns trocados.
E quando digo um triz quero dizer segundos, pois racionalmente fui capaz de dizer ao frentista que ele se tornaria um bandido ao matar aquele ser inconveniente, mas se ele não tivesse saído de perto de mim eu o teria agredido apenas com minhas mãos. Era tanta raiva que eu estava sentindo que poderia tê-lo matado, mesmo sem ter uma arma.
Os segundos se acumularam e com isso consegui controlar a humilhação daquela ameaça.
Lamentei estar sem bateria no celular o que me impediu de ter tirado uma foto do sujeito.
Estava caindo de cansado, estava fora de casa desde o almoço e estava indo à rodoviária pegar minha mulher que chegou de Cometa, vindo do trabalho, o que me impediu de ir até a delegacia denunciar aquele homem. Aliás, ele é conhecido, um frentista diz que ele é despejado em Sorocaba de vez em quando e ele vive em Itapetininga, Tatuí e vai perambulando até chegar em Sorocaba e de novo ser espantado e aparecer.
Me lembrei que no almoço de confraternização de final de ano do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), em dezembro passado, Crespo, em sua fala como prefeito de Sorocaba, afirmou ter conhecimento de um esquema clandestino de transportes que direciona moradores de rua a Sorocaba. Ele disse que estava cobrando maior efetividade da Agência Executiva da Região Metropolitana de Sorocaba para resolver problemas como esse.
A praça central, região da rodoviária, e avenidas diversas de Sorocaba seguem lotadas de pessoas que vivem na rua. Um problema do mundo, aliás. Um amigo acaba de retornar de Buenos Aires e está chocado com a quantidade de pedintes. Outro veio de Nova York e sentiu o mesmo problema. Rio de Janeiro, São Paulo e outros grandes centros estão todos na mesma situação.