Antes das manifestações de domingo passado, quando noticiei aqui que o Movimento Direita Sorocabana esperava entre 1,5 mil e 2 mil pessoas no Paço Municipal de Sorocaba, no ato nacional de apoio ao governo do presidente Bolsonaro, tinha em mente que qualquer número acima desse seria sucesso e qualquer um abaixo poderia chamar de fracasso.
Na tarde do próprio domingo comecei a receber memes e mensagens de pessoas ligadas aos sindicatos e PT ironizando o número de pessoas presentes (mil, segundo avaliação dos organizadores, ou 400 pessoas, na avaliação da Polícia Militar). Na mesma tarde, e isso se estendeu à noite de domingo e para esta segunda-feira, os militantes de Bolsonaro vieram com a contra informação, dando conta de quem foi muito mais gente e que a mídia esquerdopata escondeu e etc e ect e etc. Até mesmo pessoas de apoio a Bolsonaro trataram de esclarecer informando: Essa foto não foi de ontem, mas da campanha…
Na minha interpretação, podia cair nessa tentação de discutir objetivamente se os protestos de ontem estavam mais para os milhares ou para os milhões de apoiadores no Brasil ou mil ou centenas em Sorocaba. Uma discussão absolutamente inócua no meu entender uma vez que o sucesso do ato não está em quantos foram, mas no fato de que os que foram apoiam a principal mensagem do ato.
E a principal mensagem do ato não foi “apoiamos Bolsonaro”, nem “apoiamos a reforma da Previdência” e muito menos “viva o Pacote do Moro”. A grande mensagem foi que o Congresso (representantes do cidadão e dos Estados, deputados e senadores, portanto) e do STF (Supremo Tribunal Federal), ou seja, da Justiça, são corruptas exclusivamente e, como tal, devem ser fechadas.
Não existe democracia sem instituições. Ponto.
Apoiar essa mensagem é convencer o cidadão de que um regime de exceção é melhor do que o democrático. Estava comprando frango assado, na Cantina Fiorentina, na hora do almoço de domingo e três pessoas, conhecidas minhas, na faixa dos 65 aos 70 anos, uma empresário com mais de 200 funcionários, outro advogado conceituado e outro comerciante tradicional, que também estavam ali para comprar frango, encabularam um discurso de que a solução é fechar o congresso e dar poderes para Bolsonaro. Todos, um com mais criticidade e outro sem nenhuma, defendiam o que classificavam de período mágico e encantador do regime militar quando se podia andar na rua com tranquilidade. Não entendo porque eles devolveram, deveriam ter ficado com o Brasil, disse o comerciante. Veja, caro leitor, o Brasil era de um grupo.
Triste momento. E, como rogo no título desta postagem, que o ato de ontem não deixe o 26 de maio para nossa história. Que nossos filhos e netos não estudem… “foi em um ato no domingo, dia 26 de maio de 2019, que a população brasileira deu o primeiro sinal externo de apoio a isso que se sucedeu, com o fechamento do congresso e a tomada das ruas pelos tanques…”
Há uma crise econômica sem fim, que assola o brasileiro à pobreza (uns estão indo mais rápido que outros, mas todos estão se afundando), uma crise de confiança nas instituições e uma crise política. É sofrido. Mas com bom senso será possível manter a democracia intacta e o país sair desse atoleiro. Um bom senso que, no momento, se vê da voz e comportamento de um grupo de generais, representado pelo vice Hamilton Mourão. Um bom senso que, me parece, pode, sim, tocar o capitão eleito presidente e o Brasil saia ileso no mundo real, uma vez que no virtual, me parece claro, estamos perdidos no radicalismo.