Eutanásia na Holanda, acusação a Neymar e a violência contra a mulher

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Assim como o mundo, eu também acompanho esse caso onde Neymar é acusado de ter estuprado uma jovem depois de ter acertado de pagar sua passagem para ela ir de São Paulo a Paris, se hospedar no charmoso Sofitel, e ficar evidente que eles iriam transar. Mas ela dá as razões dela, e todos já leram e releram os argumentos dos dois lados, decidiu que não queria mais transar apesar das evidências. E a lei lhe garante esse direito. O corpo é dela. A lei diz que a mulher decide se transa ou não. Até mesmo num casamento é assim, embora muitas religiões preguem que é obrigação da mulher atender ao desejo do marido em transar. Não é. A mulher é soberana nessa decisão. Qualquer coisa diferente dá nisso: um debate sobre se foi ou não estupro, se Neymar é bobo, se a moça é esperta e por ai vai…

“Estupro é um crime hediondo. Mais que uma violência é uma manifestação de poder. Deixa consequências terríveis na vida da vítima. Portanto não pode ser banalizado. A acusação contra o Neymar traz à baila todo o preconceito e o machismo que envolve a questão. Palpiteiros de plantão saindo em defesa de ambos “(agressor e vitima)”, mas sobre o aspecto legal espero que o poder econômico não seja o foco. Que a palavra da vítima seja respeitada assim como o princípio da presunção da inocência de Neymar. E que este caso não sirva para se banalizar um crime odioso e que toda a sociedade deve repudiar”, me fala a advogada Emanuela Barros, presidente do Conselho Municipal da Mulher de Sorocaba.

E vejo o quanto Emanuela tem razão, ao abrir a edição de hoje do jornal italiano La Repubblica e ler a reportagem “Si lascia morire a 17 anni assistita da medici e parenti: il caso di Noa Pothoven scuote l’Olanda” ou “Ela se deixa morrer aos 17 anos, assistido por médicos e parentes: o caso de Noa Pothoven sacode a Holanda”.

O país debate essa morte por eutanásia (legal na Holanda), após anos de sofrimento psíquico devido a violência sexual de ter sido estuprada aos 11 anos de idade, quando saia de uma festa de adolescentes de 15 anos; ter sido novamente estuprada aos 14 anos por 2 homens quando caminhava por Arnhem, sua cidade.

Sua irmã anunciou seu desaparecimento. Durante a longa batalha pela permissão da morte doce, Noa declarara que não suportaria mais viver por causa de sua depressão. Depois dos estupros que sofreu, ele também sofria de estresse pós-traumático e anorexia. Ele havia contado sobre sua existência em uma autobiografia intitulada “Winnen of leren” (Ganhar ou Aprender).

Cinco dias atrás, ela postou no Instagram o último post: uma foto dela, uma mensagem longa e uma saudação que termina com um rosto que manda um beijo e as palavras “Com amor, Noa”. “Um triste último post, eu pensei por um longo tempo se eu deveria ter compartilhado aqui, mas no final eu escolhi fazer isso”, ela escreve em seu testamento social. “Vou direto ao ponto: dentro de 10 dias vou morrer. Depois de anos de luta, a luta acabou. Eu parei de comer e beber e depois de confrontos difíceis, foi decidido que eu poderia morrer porque o meu sofrimento é insuportável”. As palavras de Noa, escritas apenas alguns dias antes de sua morte, agora soam ainda mais dolorosas: “Acabou, eu não estou viva há muito tempo, eu sobrevivi e agora nem faço mais isso. Ainda estou respirando, mas não estou mais viva” . Então a jovem de 17 anos descreve suas últimas horas: “Eu segui, não tenho dor e passo o dia todo com minha família (estou na sala da minha casa em uma cama de hospital). Estou cumprimentando as pessoas mais importantes da minha vida”.

O post conclui com um apelo: “Sou muito fraca, não me mande mensagens porque não consigo administrá-las e não tento me convencer de que estou errado, essa é minha decisão e é definitiva”.

Ela sofreu três violências. A primeira, como escreveu em sua autobiografia, aos 11 anos de idade, durante a festa de um colega de escola, depois de volta a uma festa para adolescentes. Aos 14 anos, um assalto e violência de rua por dois homens. Mas naquele momento ela não foi capaz de denunciá-la “por medo e vergonha”. “Eu revivo esse medo e essa dor todos os dias”, ela explicou há um ano. “Meu corpo ainda se sente sujo”, explicou a menina.

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