A estratégia de ler as mais de 1000 páginas do processo de cassação do prefeito Crespo foi interrompida, a pedido da defesa, no começo da madrugada de hoje e o resultado é o que todos sabem.
Há muita teoria sobre o motivo de não ter dado certo para o prefeito seguir no cargo, mas como numa queda de avião, um desastre desse tipo sempre tem pelo menos 5 causas. Um problema que, ao longo dos dias, pretendo debater neste blog.
No momento, a questão central, no meu entender, é olhar para a frente e entender o significado da cassação no contexto político atual e futuro.
Até o prefeito Crespo ser cassado, a sucessão dele, ou seja, a eleição de outubro de 2020 para prefeito de Sorocaba caminhava para um confronto entre o vereador Manga, que colocou a campanha na rua bem cedo e, sem concorrente, avança em espaços que antes ele nunca havia circulado, e um candidato do PSDB, sendo esse o deputado federal Vitor Lippi, a deputada estadual Maria Lúcia ou o secretário estadual da Habitação, Flávio Amary, que entrou recentemente na legenda com uma festa patrocinada pelo governador Dória e prestigiada pelo prefeito da capital, Bruno Covas, e pelo senador José Serra, entre outras lideranças tucanas históricas.
Os candidatos à esquerda, incluindo o sempre potencial candidato Raul Marcelo que permanece no PSOL, por serem de esquerda, simplesmente, no contexto nacional e internacional atual, são candidatos que, eu interpreto, com menos chances neste momento de virem a ser eleitos prefeito de Sorocaba.
Com Crespo prefeito, sem sustentação popular, portanto fora do jogo da sucessão, via este cenário.
Porém, está evidente, quando foi salva da cassação, a vice-prefeita Jaqueline Coutinho havia potencializado energia suficiente para o seu grupo que, com a cassação de Crespo, se consolidou.
Nasceu uma terceira via para a eleição de prefeito de Sorocaba, não necessariamente Jaqueline Coutinho, mas evidentemente que podendo ser ela.
O pleito de 2020 deixou de ser uma eleição tranquila a Lippi ou Maria Lúcia ou Flávio Amary ou Manga. A terceira via, no mínimo, significa a divisão das forças das duas vias anteriores e a soma com uma das outras duas em detrimento da que restou só.
O PSDB sabia disso e tentou, via o diretório estadual, neutralizar na manhã do dia da votação da cassação de Crespo uma decisão do diretório municipal, ou seja, tentou fazer com que o interesse do partido ficasse acima do interesse individual dos vereadores. Mas o vereador Eng. Martinez, representante fiel do funcionalismo público, que odeia o Crespo, seria sacrificado se mantivesse o prefeito no cargo. O mesmo vale para Anselmo Neto, representante da Renovação Carismática da Igreja Católica, que também tinha fechado questão contra Crespo. Salvo os mandatos dos vereadores, que são fortíssimos candidatos à reeleição, acabou – em tese – sacrificada a campanha para prefeito. O PSDB passou a ser o partido a ser batido.