Mesmo que você não saiba responder exatamente o que está acontecendo com a Amazônia neste momento, certamente você sabe que alguma coisa está acontecendo. O assunto domina as principais manchetes dos jornais de todo o mundo e envolve aspectos ambientais: como a queimada das áreas devastadas pelo desmatamento ilegal; aspectos políticos: lideranças dos chamados países desenvolvidos (G7) ameaçando de cortar ajudas financeiras ao Brasil e provocar embargos econômicos; e aspectos ideológicos: o ministro do Meio Ambiente e o presidente Bolsonaro decidiram expor o que eles “acham” sobre tema tão sério.
Diante disso, no último final de semana aconteceu uma mobilização nacional chamada de “Amazônia nas Ruas” reunindo milhares de brasileiros em diversas cidades. Em Sorocaba, mais de uma centenas de pessoas participaram de uma manifestação, na tarde deste sábado (24), na praça do bairro Campolim e em semáforos da mesma região (foto).
E, mesmo sabendo que alguma coisa está acontecendo e ainda assim você acha que não é problema seu, Maria Tereza Ferreira, ativista sorocabana de Direitos Humanos, lhe faz uma instigante pergunta:
Se não é problema seu, de quem será?
Por Maria Tereza Ferreira
A frase “não é problema meu” mora nesse universo de sentenças que nos cercam, hoje ela me fez refletir profundamente sobre nossos compromissos, responsabilidades, ausências e na mesma proporção pesar qual a nossa disposição de superar as debilidades da ignorância e assumir a parte que nos cabe nas dificuldades que a vida nos traz.
Incorporar a sentença “não é problema meu”; no cotidiano das nossas ações é à primeira vista, libertador, afinal somos responsáveis única e tão somente pelas escolhas que fazemos de forma individual, certo?
Irremediavelmente equivocado, ilusão pensar, consciente ou inconscientemente, mesmo que por uma fração de segundos, que nos ausentando das responsabilidades que a frase implica, suas consequências vão se manter longe de nós por muito tempo. Sinto informar, mais cedo ou tarde o resultado da problemática vai atingir você.
Numa relação quando uma parte se exime do seu quinhão na resolução da situação seja qual for o motivo é preciso empatia pra entender que por vezes falta maturidade na compreensão das situações e paciência para juntos procurar os melhores caminhos, isso me parece uma prática saudável na construção e vivência das relações.
Penso que essa divisão vai além do discernimento das partes em assumir, reconhecer e superar as debilidades que todos temos, o equilíbrio das relações está exatamente na disposição de redirecionar as certezas e abrir nossos sentidos as evidências palpáveis que as circunstâncias nos apresentam.
Destrinchando a vida a partir do ponto de vista local, a um ano atrás a administração municipal estava envolvida em inúmeros escândalos, fraude em licitações, corrupção passiva e ativa, com secretários afastados e a polícia federal no encalço do prefeito, contudo a sentença o Crespo “não é problema meu” ecoava pela cidade inteira.
Resultado: prefeito cassado.
E a pergunta que não quer calar: De quem é a responsabilidade?
Numa perspectiva nacional, a sociedade do ponto de vista do poder aquisitivo vem dizendo “não é problema meu” e o fogo que hoje consome a Amazônia vem queimando os princípios constitucionais de direito, justiça, trabalho, igualdade e oportunidade.
A arte imita a vida, produções como Avatar que reproduz magnificamente filosofias orientais milenares que nos ensinam que “somos todos um” ; os Vingadores – Guerra Infinita que lutam pra reverter os danos causados por Thanos e os Vingadores – Ultimatum que têm de lidar com a perda de amigos e entes queridos, sem água e comida, mantendo a resistência contra o titã louco.
Estamos vivendo literalmente a sentença “não é problema meu”, respirando os efeitos colaterais que reverberam em nossa vida cotidiana, parte da população se cala e pior se isenta das responsabilidades em assumir seu papel em defesa da nossa vida.
Me disseram esses dias o quanto é importante orar imaginando o mundo em paz e a Amazônia sem chamas, contudo para além das orações, pedir perdão pela arrogância em não abrir mão de certezas que já se mostram equivocadas também se mostrará eficiente.
Hoje na era do “não é problema meu” urge exercitar as filosofias orientais que pregam que a oração nos coloca mais próximo do divino, pois só Ele será capaz abrir caminhos para expansão das consciências para que sendo um, sermos mais e permanecermos vivos.