Ajudei um pedreiro bem no finalzinho da noite de segunda-feira, eram 23h10 aproximadamente. Ele teve um imprevisto com a quantidade de gasolina no seu Gol, modelo 1986, placa de Sete Barras. Não fiz nada demais. Minha filha, um dia, teve problema similar quando estava em Moçambique e uma alma boa a ajudou lá. Espero que outras almas boas estejam pelo mundo ajudando, sem julgamento, quem precise nos momentos mais esdrúxulos, escuros e até inóspitos.
Conto tudo isso porque ele, sem que eu perguntasse nada e nem que eu dissesse quem eu era ou o que eu fazia, passou a lamentar a situação do país. Ele fazia questão de me dizer que era honesto e trabalhador a todo momento, embora em nenhum em tivesse desconfiado de nada ou lhe perguntado. Quando estávamos na bomba do posto, ele abriu a tampa do porta-malas e me mostrou uma série de ferramentas para “provar” o que vinha me dizendo que era pedreiro. Ele disse que esperava que o Brasil estivesse melhor, que tivesse mais emprego e que ele se arrependeu de ter votado no “óme”.
Embora eu não tenha simpatia alguma por Bolsonaro, e isso não é novidade a ninguém, me senti na obrigação de ter empatia pelo presidente da república. E assim agi. E saí em sua defesa. E disse ao Ney, esse era o nome dele: mas não dá para arrumar o país em seis meses, você não pode exigir isso do presidente. E ele me disse, não quero nada dele, não. Mas achei que ele não ia atrapalhar. Qualquer um que for lá não vai fazer nada para nós (e no modo como ele falou, a inflexão da sua voz e de seus gestos, ele deixou claro que o nós não significava eu e ele, o nós era ele e os negros e pobres como ele), só achei que ele não ia atrapalhar. Ele só fala besteira. Enquanto esse cara e esses filhos deles tiverem lá não vai acontecer nada dotô (sic)…
Sinceramente, fiquei mudo, sem reagir. Até engasgado.
Foi o primeiro voto em Bolsonaro que vi não porque acreditava nele e suas idéias (a minoria) e não porque era contra o Lula ou o PT (a maioria) ou porque era tudo igual (alguns). Mas votou porque para ele Bolsonaro não iria atrapalhá-lo…
Quando Dilma ganhou a eleição do Serra, muita gente disse que Lula elegeu um poste. Nunca vi assim. Disse a um amigo que Serra seria eleito e quando não foi esse amigo, que me vê como alguém que entende de comunicação e de política, me cobrou. E entender a vitória de Dilma virou um desafio para mim. Revendo a campanha no seu processo, entendi o seguinte: Serra, e todas as pesquisas indicavam isso, era o melhor presidente para o Brasil, era o presidente que o Brasil precisava. Mas na urna, na hora da escolha, o voto vai para quem será melhor para ele, para o indivíduo, para o eleitor. E Dilma era o melhor para o brasileiro. Serra era o melhor para o Brasil. São coisas bem distintas.
O Bolsonaro ganhou não porque o Nei (ou os Neis que estão por aí no Brasil) achou que ele seria o melhor para ele ou o melhor para o Brasil, mas porque achou que não ia atrapalhar. E, 9 meses depois, ele vê que ele está atrapalhando.
Minha esperança é que o Nei esteja errado e a razão esteja com os números do banco de dados da Associação Comercial de Sorocaba, administrado pela Boa Vista SCPC, que mostra a inadimplência dos consumidores mostrando tendência de queda, ou seja, estão devendo menos. Ou, ainda, no otimismo do diretor titular do Ciesp Sorocaba, Erly Domingues de Syllos, que num evento que reuniu um público seleto nessa semana ele disse que “estamos em um momento em que o Brasil está saindo de uma forte crise e é importante fomentar a economia regional”.