Então fica assim: Vocês ficam aí… e eu estou indo para a puta que pariu… Ok?

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Na noite de segunda-feira passada, numa reunião produtiva sobre o que pode ser um novo e importante momento para Sorocaba, um grupo de pessoas conversava, dava idéias, planejava ações, organizava o calendário e a pessoa mais importante de todo o projeto fez um desabafo, absolutamente pertinente, sobre o comportamento de algumas outras pessoas, muitas delas grosseiras, sem modos, insistentes.

E um amigo de longa data, no tom descontraído que o encontro permitia, disse: Faça como um amigo, saudoso, que numa hora como essa onde a gente fica com vontade de mandar alguém para a aquele lugar, ele, com o seu ar blasé, dizia: Então fica assim: Vocês ficam aí, na chatice dessa discussão sem fim, desses pedidos sem senso, e eu estou indo para a puta que pariu…

Foi uma risada só. Se é ele quem estava indo, como ter briga?

O fato é que quando descobri que o saudoso amigo que dizia isso era Pedrinho Mattar, quase caí da cadeira.

Aos 82 anos, ele morreu em março passado, depois de ficar acamado por uma infecção na bexiga que se recusou a tratar. Passou os últimos momentos na casa das filhas em São Paulo no convívio dos netos.

Pedrinho Mattar era redator publicitário. Dos ótimos.

Mas isso era muito pouco para ele. Pedrinho era poeta, filósofo. É uma adjetivação melhor. Mas ainda assim, estou convencido, não são termos que ainda explicam a boa alma que habitava dentro dele.

Pedrinho era um bom ouvido, isso sim.

Era ranzinza, implicante, também.

Era engraçado demais.

E estava longe de ser burro. É isso. Pedrinho não era burro. O que é absolutamente raro nos dias de hoje onde a ideologia cega, num mundo bicolor, onde o sexo virou um arco-íres de tantas variações de gêneros.

Pedrinho não acumulava nada e o dinheiro lhe servia. Entenderam? Ele não servia ao dinheiro. O dinheiro lhe servia para ele viajar. Adorava os hotéis, os bares, os restaurantes, os charutos, os uísques de Paris – como na foto – quanto os de uma sala em cima da extinta padaria Cattani na rua lateral da rua que agora desce na rodoviária de Sorocaba. Foi lá que o conheci.

Pedrinho gostava de andar de táxi e odiava quando o motorista não lhe deixava na porta de onde ia. Pedrinho gostava de vinho. Da preguiça e de sossego. Um tanto assim como eu. Nossas conversas, sempre escassas e raras, eram anuais, sempre perto do final do ano, quando a melancolia do ambiente familiar nos unia. Nesse ano, soube de supetão, como contei logo acima, ficarei falando sozinho… da torneira gotejando.

Pedrinho gostava de sair à francesa.

Marco Túlio Proença, um dos grandes amigos de Pedrinho Mattar, com quem compartilhou lindos momentos, no dia 19 de março, em sua rede social – fui ler apenas hoje – escreveu um saboroso texto para Pedrinho. Aqui, reproduzo um pequeno trecho: “Porra, Pedro. Ontem fui a sua festa de despedida.

Confesso que estava meio caída, não teve desfile, faltou mágica e as piadas ruins mais engraçadas do planeta.

Como em toda festa, você saiu novamente à francesa, de fininho, quase que de costas, mas desta vez todo mundo percebeu…”

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