O que significa dizer que a cultura não é hereditária

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Em Genética (especialidade da biologia que estuda os genes), hereditariedade é o conjunto de processos biológicos que asseguram que cada ser vivo receba e transmita informações genéticas através da reprodução. A informação genética é transmitida através dos genes, porções de informação contida no DNA dos indivíduos sob a forma de sequências de nucleótidos.

Todo mundo sabe disso, pois todo mundo é filho de alguém e todo mundo, desde bebê, quando ainda está longe de compreender exatamente a linguagem dos signos, escuta: olha é a cara do pai. Não, da mãe. Puxa, parece com o vovô quando ele era criança. A cara da vovó quando ela tinha essa idade…

Todo mundo sabe disso porque a-pren-deu. Ou seja, é totalmente o contrário da genética. Se os genes asseguram a cada novo ser vivo informações de sua origem em suas células, em cultura é necessário que esse ser aprenda.

A decisão da Ancine (Agência Nacional de Cinema) pela retirada dos cartazes de filmes brasileiros das paredes e plataformas digitais da entidade passa por esse raciocínio: não se enxerguem, não se reconheçam, não aprendam quem são.

Essa decisão só é mais uma e se soma ao movimento Escola Sem Partido, a batalha para se colocar um evangélico no STF (Supremo Tribunal Federal), a negação dos exageros da ditadura militar, a valorização do torturador Ulstra, de que a Terra é plana…

Por isso, quando vejo alguém batendo no peito, dizendo que tem domínio sobre o que pensa, decide e faz fico constrangido, aquele sentimento de vergonha alheia, tipo na piada Aí que vergonha do Várte!

Na medida em que o pensamos não chega pela genética, mas pelo aprendizado, somos fruto do que aprendemos. Um complicador nisso tudo: um ser humano só aprende o que está apto a aprender. Por isso, muitas vezes, passa pela frente de alguém um “elefante” de tão grande, mas nem sempre ela percebe, ou vai perceber em outra fase da vida. Aprendizado é processo.

A mentalidade olavobolsonarista, que serve a interesses que extrapolam as fronteiras físicas da chamada nação brasileira, usou de uma novidade (a tecnologia da comunicação instantânea e em rede) para fazer algo velho: responsabilizar um grupo (na Alemanha do pós 1º Guerra foram os judeus, no Brasil de hoje são os lulopetistas) por todo o mau que nos assola.

Quando você ouvir alguém falando que não gosta de filme brasileiro, que o filme brasileiro é ruim, que os filmes brasileiros só tem mulher pelada… Quando ver alguém vestindo o filho com roupa de super herói (qualquer um, a lista enorme)… Quando a preferência de alguém recair pelo fast food, comida pronta em caixas plásticas… Quando perceber que as vendas de qualquer produto só melhoram quando no letreiro tiver alguma palavra em inglês ou com o apóstrofo (que na língua inglesa, ao contrário da portuguesa, indica que tal coisa é de alguém)… Quando viajar, morar, passear em Orlando ou Miami passa a ter mais glamour ou interesse de se viajar por Porto Alegre, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Recife, Paris, Belo Horizonte, Roma…

Enfim, quando houver tal percepção é importante que fique bem claro: tudo isso foi “ensinado”. Não é pela via genética que tais preferências se manifestam.

A mentalidade olavobolsonarista, com a justificativa de que o lulopetismo dominou a mente do brasileiro, trabalha para “limpar” o Brasil dessa impureza da esquerda.

O que é uma grande bobagem na medida em que o único interesse, da mentalidade olavobolsonarista e ao “senhor” que ela serve, é colocar no lugar ensinamentos deles. É só uma troca.

Por isso me entristece verdadeiramente ver alguém querido (como irmão, sobrinho, primo) sendo mula das ideias e ideais da mentalidade olavobolsonarista. Pois ninguém quer um brasileiro verdadeiramente livre.

A prova disso é o resultado do Pisa (Programa Internacional da Avaliação do Aluno), onde o Brasil novamente tem pífio resultado no quesito leitura, onde os melhores alunos brasileiros – das escolas particulares e de elite – tem um desempenho em interpretação de texto abaixo do que os piores alunos dos países desenvolvidos.

Ou seja, são criadas manadas, e não cidadão, que nem “desenhando” entendem o que está sendo dito, em qual contexto e por quais razões.

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