Morre Elza e com ela o Lado B da história de Sorocaba

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A professora Elza Puglia Racca morreu hoje aos 79 anos e com ela vai junto uma boa parte da memória da história recente de Sorocaba.

Não que ela fizesse parte da turma de Vera Job, Sérgio Coelho de Oliveira, Geraldo Bonadio, Adolfo Frioli – que se dedicam, verdadeiramente, a estudar com a devida metodologia e cultivar a história de Sorocaba.

Elza foi daquelas que conheceu os bastidores apimentados de alguns políticos e os manteve vivo no boca a boca, no sabor da oralidade.

Um dia, desses tantos em que ela passava as tardes no mesão comunitário da Padaria Real do centro de Sorocaba, ela puxou papo comigo. Ela sempre foi boa nisso, em fazer amizade. E engatilhou a falar da intimidade de pessoas conhecidas de nossa história.

Elza era expansiva nos gestos e, principalmente em sua voz de Alcione como, carinhosamente, numa linda homenagem, escreveu hoje em sua página de rede social a jornalista Estela Casagrande, lembrando da importância de Elza na vida dos filhos de quando ela dirigia a creche na Secretaria da Saúde.

Elza era curiosa e, de mim, sempre queria saber alguma coisa que, de fato, eu nunca sabia. E, sempre achando que eu escondia algo, ela me contava alguma boa sobre a vida amorosa de alguém na expectativa que eu retribuísse.

Quem não entendia a Elza, podia achar que ela era maldosa e poderia se envenenar mordendo a língua. Mas ela, apenas, não era hipócrita.

“Esse… Era sem vergonha… Tinha amante sim… Posou sempre de santo, mas foi um vagabundo, enganava a mulher…” E sua voz ecoava, alto. Eu gargalhava, imaginando o senhor do qual ela falava em cenas quentes com a amante.

Fico imaginando como teria ficado Sorocaba se os políticos que fizeram a história da cidade a partir dos anos 60 e 70 – no auge da ditadura militar – tivessem suas vidas contadas pela Elza já naquele momento. Certamente não teria sido a mesma.

Elza tinha na memória o Lado B da vida das pessoas públicas da cidade. E tais pessoas não são apenas as que recebem os votos no dia da eleição, mas as que rodeiam os eleitos também. Essa chamada elite (da política, da igreja, da maçonaria, das entidades sociais…) não escapava das lentes, olhares e juízo de Elza. Nem homens e nem mulheres. Afinal não há sem vergonha (kkkkk, parafraseando Elza) de um lado só.

Quando a Toquinha me disse na semana passada que havia passado na casa da Elza, que ela estava bem melhor e mesmo assim não quis sair de casa de novo, senti que a depressão iria acelerar sua partida. Mas não achei que seria tão rápido e que eu não teria tempo de vê-la no novo ano.

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