“Entre direita e esquerda, nós continuamos sendo pretos”

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George Floyd era um negro que morreu há uma semana, no dia 25 de maio de 2020, depois que o policial Derek Chauvin em Minneapolis, Minnesota, nos Estados Unidos, se ajoelhou no pescoço de Floyd por pelo menos sete minutos, enquanto ele estava algemado e deitado de bruços na estrada. Tudo começou com um relato sobre uma nota falsa de US$ 20 em um supermercado. E culminou na morte de Floyd. Os eventos que levaram à sua morte ocorreram em uma sequência de 30 minutos.

Um vídeo mostrando a prisão viralizou após o episódio. Nele aparece um policial branco, Derek Chauvin, com o joelho sobre o pescoço de Floyd, enquanto ele está algemado e de bruços no chão.

Chauvin, de 44 anos, foi preso e é acusado de homicídio. A morte de Floyd provocou uma onda de protestos em todo o país. A situação é tão grave que Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, determinou que fossem apagadas todas as luzes da Casabranca e ele foi para um bunker.

Para tratar desse assunto, que domina o noticiário de todo o mundo, a ativista Maria Teresa Ferreira faz uma reflexão aos leitores deste blog numa analogia com o governo Bolsonaro, do isolamento social e da questão racial em Sorocaba, Brasil e mundo. Leia:

 

Sobre as manifestações de ontem

 

Por Maria Teresa Ferreira 

O assassinato de George Floyd trouxe à tona novamente a violência com que os corpos negros são tratados diariamente pela sociedade e suscitou uma onda de mais violência que se espalhou pelo mundo.

No Brasil diante do (des)governo que agrava cada dia mais as crises do país (sanitária, política, social e econômica) a revolta “Floyd” se soma aos anseios da retomada da democracia que nada mais é do que pressionar a queda do Bolsonaro e não a urgência da luta antirracista pra defender e preservar corpos negros.

Vivenciamos a contradição das lutas contemporâneas, irmos para rua x mantermos o isolamento? Preservar vidas x voltar a normalidade abrindo o comércio?

A questão é mais profunda do que simplesmente apoiar ou não uma manifestação. É óbvio que as manifestações precisam se apoiadas, seja com uma nota repudiando o racismo (mais uma), seja com a presença física de quem se dispõe ao risco, entretanto manifestação feita, nota escrita e divulgada,  cumprido nosso papel antirracista, o que vem depois? 

Se as questões raciais continuarem fora da centralidade das discussões, mais mortes ocorrerão. Isso é certo, porque somos movidos pelas urgências e não pelo entendimento da profundidade da questão.

A decisão é pelo isolamento social mesmo com todas as manifestações em curso, porque somos nós negros que estamos mais expostos a pandemia. Sueli Carneiro diz que “entre direita e esquerda, nós continuamos sendo pretos”, ou seja, direita, esquerda e movimentos em geral precisam TER ATITUDES E AÇÔES ANTIRRACISTAS para que possamos vencer as estruturas.

As manifestações são urgentes e de alguma forma expressam o grito “parem de nos matar”, isso não quer dizer que materializam o grito na revolta do povo preto porque ela não é protagonista da questão, ela se soma ao fora bolsonaro, que é o verdadeiro pano de fundo das manifestações sobre democracia. 

Resta saber se depois do fora bolsonaro, ele fora, onde e que pra quem ficará aquilo que chamamos de antirracista, além de nos negros. 

Maria Teresa Ferreira é do Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Sorocaba; conselheira da Unegro (União de Negros pela Igualdade de Sorocaba) e militante do movimento social e luta antirracista da Região Metropolitana de Sorocaba.

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