“Posso não concordar com uma palavra do que tu disseres, mas defenderei até o fim o direito de dizê-las”.
Durante muito tempo levei esse conteúdo, de Evelyn Beatrice Hall*, como lema de vida.
Aí começaram a aparecer o que eu nunca imaginei como possível, pessoas defendendo, ou minimizando, a pedofilia, por exemplo.
A situação piorou tanto que aquilo que parecia enterrado, como o Fascimo e Nazismo, voltaram a fazer parte do nosso dia-a-dia.
A cereja do bolo dessa nova triste realidade foi a postagem de Rinaldo Rodrigues, travestido de Hitler. Nunca fui amigo do Rinaldo, mas conheço bem a sua figura pública, a força com que mantém o projeto de basquete em Sorocaba e sua dedicação nos bastidores, sempre articulando benefícios para a LSB (Liga Sorocabana de Basquete).
Até esse episódio do Hitler, eu defendia essa paixão de Rinaldo. A partir de agora, confesso, não terá mais nem meu respeito. É como um cristal que se quebra. Não se conserta mais. Confesso que estou sofrendo com isso desde o ocorrido. Minha intenção, quando comecei a escrever este texto, era defender Rinaldo. Mas como?
Decidi, então, colocar na balança toda a sua história. De um lado a sua dedicação ao basquete sorocabano, prêmios, títulos e a apaixonada defesa do seu trabalho que influenciou milhares de crianças nas últimas três décadas. Do outro, os minutos em que sua foto travestido de Hitler ficou exposta em sua rede social até ele a deletar, dizer que era brincadeira e se desculpar.
A Federação Israelita, que reúne o povo judeu, execrado pelos nazistas ao lado de outros povos como o polonês e ciganos, reagiu: “Trata-se de uma atitude indesculpável e que merece toda forma de condenação possível. Não toleraremos ‘brincadeiras’ com temas tão sensíveis para todos nós”.
Esses minutos da foto de Rinaldo Hitler colocaram em dúvida suas décadas dedicadas ao basquete e suas crianças.
Rinaldo pode ser bem formado em sua área de atuação, mas em Humanidades, digamos assim, é absolutamente medíocre. Só isso justifica ter se comportado como o panaca que foi nessa foto. Ainda acho que ele não se deu conta que as décadas promovendo para o bem o nome de Sorocaba se tornaram insignificantes diante dos anos em que o nome da cidade será ridicularizado por essa sua atitude. E não há nada a ser feito, de imediato, que dê jeito nessa bagunça toda.
Pedido de desculpas
Segue a nota na íntegra de Leandro Soares, advogado de Rinaldo Rodrigues (do basquete) enviada para órgãos de imprensa: O dirigente e técnico de Basquetebol Rinaldo Aparecido Rodrigues, de 53 anos de idade, atualmente responsável pelo projeto da Liga Sorocabana de Basquetebol que engloba desde as categorias de base, entre as idades de 06 a 14 anos de idade e categoria adulto, que irá participar do campeonato Paulista e consequentemente o Campeonato Brasileiro de Basquetebol.
Postou em uma rede social uma infeliz montagem com roupas de cunho nazista e com o bigode característico e semelhante a Adolf Hitler.
Já foi mencionado pelo próprio Reinaldo em suas redes sociais que não compactua e que é absolutamente avesso a qualquer tipo de discriminação racial ou mesmo de apologia ao nazismo.
Quando viu que sua postagem teve uma grande repercussão, imediatamente fez a retirada e em um ato quase que imediato fez seu pedido de desculpas formalmente através de post em seus “Stories” por tudo que estava acontecendo. Disse ainda em seu “post” da seguinte forma: “Fui infeliz e afirmo que não concordo com essa figura triste da história mundial”.
Relata ainda que nunca foi preconceituoso, racista ou mesmo membro de qualquer grupo que faça menção ou apologia ao nazismo, alerta ainda, que em sua equipe tem tanto atletas, quanto técnicos negros, e que é totalmente avesso a qualquer tipo de manifestação preconceituosa. Está totalmente desconfortado pela postagem e com essa situação. Alega que está preocupado com toda a repercussão e novamente pede desculpas pelo ocorrido.
Por fim, alerta novamente que apologia ao nazismo é intolerável.
12 de junho de 2020. Leandro da Cruz Soares – Advogado Criminalista (OAB/RS 99.803).
- Alertado pelo leitor Aldry Tessarotto Almenara, corrigi o crédito da expressão na abertura deste texto.
A frase é de autoria de Evelyn Beatrice Hall (1868 – após 1939), que escrevia sob o pseudônimo de S.G. Tallentyre, escritora britânica mais conhecida por sua biografia de Voltaire intitulada Os Amigos de Voltaire, que concluiu em 1906. Na biografia sobre Voltaire, Hall escreveu a frase “Eu desaprovo o que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-lo” (que muitas vezes é atribuída de forma errônea a Voltaire). A citação de Evelyn Beatrice Hall é muito referenciada para descrever o princípio da liberdade de expressão.