A morte de José Paulo de Andrade na manhã desta sexta-feira (17 de julho de 2020) no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde estava desde o dia 7 de julho após complicações em seu quadro de enfisema pulmonar agravado pelo diagnosticado do coronavírus, é daquelas notícias que levam a gente a refletir sobre as escolhas que fazemos.
A carreira de José Paulo de Andrade, que tinha 78 anos de idade e 60 de carreira, se confunde com o programa “O Pulo do Gato” que estreou em 1973 (no auge da ditadura militar) e foi apresentado ininterruptamente por ele desde então. O programa é o recordista no rádio brasileiro, como tendo o mesmo apresentador e sendo apresentado no mesmo horário. Em 2009, o apresentador foi eleito pela revista Veja como uma das pessoas que são “a cara de São Paulo”.
Zezo Lanaro, saudoso, o príncipe sorocabano, era seguramente o mais ardoroso fã de Zé Paulo e seu “O Pulo do Gato” e me explicava como a agilidade mental de Zé Paulo, aliado ao seu conhecimento de direito, economia e política, davam ao programa a alma que tanto acalentava ao ouvinte.
O rádio fez parte da minha vida, mais do que o futebol, e tive essa certeza quando gandula do São Bento no CIC e Clodoaldo Armando Júdica, da Rádio Clube, deixou que eu puxasse o fio do microfone para ele dentro do gramado. Dia de jogo, era dia de ver os repórteres trabalhando. Jurandir Mateus e Flávio Moraes me ampliaram a chance dada por Clodoaldo. Depois Dedé Dantas escancarou o microfone para mim na Rádio Metropolitana. Vim reencontrar o rádio em 2013 quando Kiko Pagliato, corajosamente, abriu espaço para que eu levasse ao ar a coluna O Deda Questão no então Jornal da Ipanema (hoje Jovem Pan Sorocaba).
A morte de Zé Paulo na manhã de hoje, amplamente noticiada nas emissoras do grupo Bandeirantes, no Bom Dia SP de Rodrigo Bocardi na Globo, no programa de Milton Jung na CBN e tantas outras emissoras, me levou a pensar porque fugi do rádio.
Para mim, escrever sempre foi mais difícil do que falar. O corpo, através dos seus gestos, a entonação, energia, fala e se comunica com o ouvinte. O texto, para falar como o corpo, precisa ser amplamente dominado por quem o concebe. E fui atrás disso. Do que era mais difícil. De me conectar com meu leitor através daquilo que sempre amei, mas não me era “natural” como falar no rádio sempre foi.
Esse seria o “pulo do gato” sobre mim?
Me lembro de ter recebido uma ligação e atendido o celular enquanto subia pela escada rolante do Villágio Shopping e ter dito ao meu interlocutor, pessoa querida, de que estava com a coluna no Jornal da Ipanema. Foi um choque para mim sua resposta. Em tom de consolo, a pessoa me disse: é passageiro, logo logo você volta ao jornal (impresso). A intenção era das melhores, longe dele querer me magoar, mas magoou. Não fui fazer nada provisório na rádio, tanto que fiquei por cinco anos e com sucesso. Mas naquele momento, ainda, a rádio era vista como algo menor. Uma grande bobagem. Um equívoco. Mas isso não era perceptivo naquele momento de 2013. O rádio só retomou sua força com o advento do whatsapp e o “novo mundo” que nasceu em julho daquele ano com os protestos contra os 20 centavos da passagem de ônibus e culminou com a eleição de um extrema-direita em 2018.
Certamente Zé Paulo, com sua voz grave, severa e cheia de energia teria uma palavra mais a dizer naquele telefonema. Eu apenas engoli minha tristeza!