Em que pese teorias conspiratórias em torno da cédula de 200 reais, desde que ela foi anunciada pelo Banco Central, a verdade é que a conjunção de três fatores levaram a isso: A) 42% dos brasileiros não têm conta em banco; B) A pandemia do Covid19 fez com que mais brasileiros (especialmente aqueles que receberam o auxílio de R$ 600 do governo) passassem a guardar em casa dinheiro em espécie; C) mais de 60% dos brasileiros preferem fazer o pagamento de suas contas em dinheiro, segundo dados oficiais.
Uma lógica completamente diferente da brasileira se encontra na Europa, que tinha cédula de 500 euros e interrompeu a sua confecção, onde as transações digitais são preferidas por mais de 90% da população; mais de 90% têm conta bancária e menos de 20% recebe auxílio dos governos em espécie e por via eletrônica. Ou seja, a maioria daquela população usa cartão de débito, conta corrente, depósito à vista, transferência. No Brasil também é a maioria, mas numa escala menor.
Dados divulgados do Banco Central mostram que, de fevereiro — antes da crise sanitária — para junho, o papel moeda em poder do público saltou 29%, de R$ 210,2 bilhões para R$ 270,9 bilhões. Esse é o maior valor da série histórica do BC, iniciada em dezembro de 2001.
O Banco Central informa que o lançamento da nota de R$ 200 se tornou necessária para prevenir uma possível escassez de papel-moeda nos próximos meses, já que por causa da pandemia e da economia aos soluços, os brasileiros estão gastando menos e guardando mais dinheiro em casa, no popular “debaixo do colchão”. Ao todo serão injetadas 450 milhões de novas cédulas de R$ 200, totalizando um montante de R$ 90 bilhões.
Para um grupo de pessoas, a nova cédula vai diminuir o volume de dinheiro a ser transportado em malas, aquele da corrupção.
Para outro grupo, com essa medida de agora (criar a cédula de 200) o governo prepara um medida em seguida que é a de anular a cédula de 100 reais, obrigando quem as têm guardada a trocar pela nova de 200. Ao fazer isso, irá identificar quem teve acesso a cédula de 100 sem lastro, ou seja, sem a venda de algum bem, sem ser de algum empregador…
Vale lembrar que já foi anunciado pelo Banco Central novas regras sobre o uso do dinheiro: A partir de 1º de outubro vai entrar em vigor uma circular que prevê controles mais rígidos para saques acima de R$ 2 mil ficando os bancos obrigados a registrar nome e CPF de quem realiza a operação. Para saques acima de R$ 50 mil ficará obrigatório justificar a finalidade, enquanto para depósitos acima de R$ 50 mil será necessário informar a origem do dinheiro.
Num país onde um político é preso com dólar na cueca, outro com 51 milhões em espécie em seu apartamento e, recentemente, um ex-secretário da saúde do Rio com 6 milhões de reais em sua casa, medidas como essa são bem-vindas.