Kit-Covid: rompimento do contrato social

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Há um movimento de políticos, entidades e sindicato dos médicos contra a decisão da Prefeitura de Sorocaba, que por meio da Secretaria da Saúde, iniciou na sexta-feira passada o protocolo de tratamento precoce contra a Covid-19 dos pacientes da rede municipal de saúde.

Com a decisão da prefeitura, os médicos da rede poderão prescrever os medicamentos aos pacientes com suspeita da Covid para iniciar o tratamento de maneira preventiva. Ocorre que o Kit-Covid se tornou um instrumento político do presidente Jair Bolsonaro amplamente massificado por seus seguidores.

De um lado o argumento é: deixe que tome. Do outro os gastos de recursos públicos com algo comprovadamente sem eficiência.

Mas me preocupa o aspecto cultural desta batalha: o rompimento do Contrato Social que se estabeleceu ao longo dos séculos entre Médico e Paciente.

O contrato social é uma metáfora usada pelos filósofos contratualistas para explicar a relação entre os seres humanos e o Estado. Esta figura de linguagem foi utilizada especialmente por Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau, ou seja, o contrato social é um acordo entre indivíduos para se criar uma sociedade, é um pacto sobre o papel de cada um numa organização.

O médico é uma pessoa que estudou, se preparou e se tornou apto a receitar aos seus pacientes fármacos que vão atuar no combate de sua enfermidade. E o paciente é uma pessoa, leiga em medicina, que acredita, aceita, prefere que um médico lhe diga o que é bom para matar sua doença e deixa-lo saudável novamente.

No caso de Sorocaba, no mesmo dia em que aprovou o uso do Kit-Covid, o secretário da Saúde, Vinicius Rodrigues, disse através da assessoria de comunicação que “o objetivo é diminuir a letalidade e a complexidade dos casos de Covid-19, evitando internação para não sobrecarregar os leitos de saúde”. Porém, ao Portal G1 Sorocaba, o médico afirma que não há comprovação de que esses remédios fazem bem ao paciente, sendo de responsabilidade do paciente tomar ou não os remédios do kit: “Se o paciente não aceitar o tratamento, ele não faz. Assim como, se ele aceitar, ele assina um termo reconhecendo, porque é muito difícil, por exemplo, dipirona baixa febre? Sim, dipirona baixa a febre. O tratamento precoce funciona? Olha, estudos indicam que, muito provavelmente, ele funciona. Mas você tem 100% de certeza? Não, a gente não tem.”

É um claro rompimento do contrato social, uma vez que tira do médico a responsabilidade sobre o remédio receitado e dá essa responsabilidade ao paciente.

Seria o mesmo que um grupo passasse a acreditar que o que todos nós chamamos de Verde, a partir de agora, chama-se qualquer outra coisa. Ao fazer isso, esse grupo rompe com o que está combinado. Não importa o idioma, verde é verde em qualquer lugar do mundo. Cada ser humano aprende isso, portanto não é hereditário esse saber. É algo combinado entre todo mundo.

De repente, a onda nacionalista que começou a afetar diversos países do mundo e culminou com a eleição de Trump e Bolsonaro, rompe este contrato social. É isso o que está por trás dessa divisão, guerra, que estamos participando, embora muitos nem tenham ainda percebido isso.

O Ministério Público e a Justiça, devidamente já acionados, vão dar uma resposta à sociedade. E, espero, que o rompimento do contrato social Médico e Paciente seja levado em conta.

Volto a dizer, isolamento, máscara, vacina e inteligência são os únicos instrumentos capazes de brecar a expansão da propagação do vírus. Não há kit-covid capaz de combater o vírus, nem hidroxicloroquina, invermectina ou qualquer outro remédio. Tanto que seus donos, os laboratórios, dizem isso com clareza. Se pesquisas mostrarem o contrário, será um novo conhecimento, mas por enquanto é só crença, mágica, ilusão.

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