O silêncio dos dias seguintes ao da renúncia de Jânio. E a atual barulheira de Bolsonaro

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No dia 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros renunciou ao cargo de presidente da República. Os motivos, os argumentos, as intenções, as estratégias por trás deste ato se tornaram fartos materiais de análise e interpretação dos historiadores. Quem se interessa pelo tema, acha facilmente as respostas.

Jânio quadros, um político na acepção da palavra, tinha o dom da oratória e da ilusão. Ele resumiu sua atitude como sendo motivada por “forças ocultas”, mistificando sua decisão e, assim, atraindo parcela expressiva de brasileiros a se manterem fiéis a ele e sua atitude.

O importante dessa efeméride, e por isso escrevo hoje sobre ela, diz respeito a como foi o dia do cidadão comum naquele 25 de agosto de 60 anos atrás. Conversei com algumas pessoas do meu convívio e todas foram unânimes em dizer que foi um dia como qualquer outro. Ah, o presidente saiu… Uma reação de deboche, como se tal decisão não lhe dissesse respeito. O fato é que amanheceu o dia 26, 27, chegou setembro, chegou 1962, 63… Foram todos dias silenciosos. Dias absolutamente iguais aos anteriores ao da renúncia.

Eram os anos 60, os anos onde o pêndulo da cultura (da história) voltava de um período de repressão (política e comportamental), depressão (econômica e social) e truculência (a memória da 2º Guerra Mundial estava presente em toda aquela geração) e chegava com força aos valores agregados ao Direitos Humanos, onde se inclui o início ativo da participação das mulheres na vida pública, quando os negros passaram a entender que deveriam participar da vida de qualquer sociedade, os homossexuais (que deram origem à complexa sigla de hoje em dia, a LGBTDA++) iniciavam a batalha para serem aceitos…

No silêncio desse contexto histórico chegou 31 de março de 1964, quando os militares tomaram o poder até que em 1965, com o AI-5 (Ato Institucional Nº 5), de fato houve o golpe que, em nome do combate à hegemonia esquerdista (uma alucinação, como se fosse possível que aqui ocorresse o que aconteceu em Cuba), cumprem (a história também comprova isso) a estratégia dos Estados Unidos de militarizar os governos de toda a América Latina.

Um amigo disse que o silêncio que se sucedeu nos dias seguintes à renúncia de Jânio foi o mesmo dos dias que sucederam o 31 de março.

O cidadão comum começou a sentir a mão dura e agressiva do golpe a partir do AI-5. Daquele instante em diante, o medo se instalou entre as pessoas. Medo de que pudessem estar fazendo algo que desagradasse o comando, pudessem estar falando algo que provocasse o desgosto do comandante. Passaram a ser dias em que pequenos poderes (o do policial do bairro, por exemplo) tinham mais força do que o poder da Constituição que iguala a todos numa sociedade.

Lembro estes fatos e me convenço de que a sociedade, por analogia, age como o organismo humano quando afetado por um violento câncer que mata o sujeito em meses. Há um silêncio profundo até a identificação do mal.

Espero que a barulheira pela qual a nossa democracia está passando, com a articulação para que as Polícias Militares dos estados se insurjam contra os governadores em obediência ao presidente Bolsonaro, seja apenas um blefe. E que sigamos com dias de normalidade, onde na urna o brasileiro possa resgatar o direito de sonhar em ser feliz.

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