Se solidarizar com a candidata suicida é importante, mas não suficiente

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Em nota oficial divulgada na tarde de ontem, terça-feira, assinada por Patricia Vanzolini, presidente da OAB SP; Márcio Leme, presidente da Subseção OAB Sorocaba e Ana Claudia Silva Scalquette, presidente da Comissão de Exame de Ordem da OAB SP, a Ordem dos Advogados do Brasil informa que “a fim de preservar seu direito à intimidade” não vai revelar detalhes sobre o episódio envolvendo uma candidata a ingressar na entidade, que se jogou pela janela do segundo andar do prédio Colégio Objetivo, domingo passado, por volta das 12h45, quinze minutos antes do horário de início do exame e quando as instruções estavam sendo lidas para que a prova tivesse sido iniciada.

Segundo relato das testemunhas, quando as instruções estavam sendo lidas a candidata, aparentando muito nervosismo, levantou de sua cadeira e andou em direção à janela. Tirou outras cadeiras do caminho, forçou a abertura da janela e se jogou.

O ato da mulher foi interpretado como sendo desespero dela. Mas pelo quê? É sua primeira tentativa? Já fez outros exames?

No Brasil, quem deseja ser advogado necessita se diplomar em Direito o que o torna bacharel, mas para exercer a profissão se faz necessário também ingressar na OAB, uma espécie de clube dos advogados, para ter o direito de operar o Direito. Essa é a lei. Os cursos de Direito, ao longo dos anos, se popularizaram no Brasil e se diplomar deixou de ser um grande problema para quem sonha com a profissão. Porém, o ingresso na OAB continua sendo uma das mais difíceis provas de acesso a uma profissão. Entende-se que essa exigência do candidato garante a qualidade do profissional.

O surto da candidata, ao se jogar pela janela, poderia ter outra razão que não a sua dificuldade em fazer a prova? Márcio Leme, presidente da Subseção OAB Sorocaba, dá a entender que não e que o motivo foi mesmo a pressão de passar no Exame da Ordem quando afirma: “O episódio revela para os demais candidatos a necessidade de se preparar não só com estudo, mas também com o estado emocional. É preciso lidar com eventuais frustrações e com a pressão. É um momento de intensa cobrança, precisamos cuidar da saúde mental dos nossos candidatos”, declarou.

Porém, mais do que isso, é preciso que deixe de existir esse afrouxamento que a popularização dos cursos de Direito produziu no conhecimento. Se ter o diploma não basta para passar na OAB, evidentemente há algo de muito errado na formação desse aluno. Há a ilusão do diploma. É um estelionato, em suma, onde o mais pobre novamente paga a conta.

Mais do que se solidarizar, e preservar seu direito à intimidade, a OAB precisa agir no sentido de que jovens, iludidos, deixem de serem roubados por faculdades que não oferecem conhecimento aos seus alunos. Se solidarizar com a candidata suicida é importante, mas não suficiente. A OAB pode mais do que palavras bonitas expressas num momento de consternação.

Confira a nota oficial da OAB SP:

“A Ordem dos Advogados do Brasil, seção São Paulo (OAB SP) e a Subseção da OAB Sorocaba vêm manifestar solidariedade e pesar em relação ao triste incidente ocorrido momentos antes do horário de início da aplicação da prova objetiva do XXXIV Exame de Ordem.

Após o fato, o certame transcorreu como previsto e 13 examinandos, por razões pessoais, optaram pela realização da prova no próximo Exame de Ordem.

Os demais examinandos alocados no polo de aplicação realizaram a prova regularmente.

A OAB SP presta assistência e solidariedade à pessoa envolvida e não fornecerá mais detalhes a fim de preservar seu direito à intimidade.

Atenciosamente,

Patricia Vanzolini, presidente da OAB SP

Márcio Leme, presidente da Subseção OAB Sorocaba

Ana Claudia Silva Scalquette, presidente da Comissão de Exame de Ordem da OAB SP”.

 

Passa bem

A candidata que pulou da janela sofreu ferimentos, mas nenhum deles graves apesar do susto. Isso ocorreu porque ela se jogou do segundo andar, mas caiu numa laje (como mostra a foto) logo após a janela e não foi diretamente ao chão, no térreo do edifício o que, certamente, teria lhe causado sérios problemas físicos.

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