Gargalhadas de deboche 

Compartilhar

Fui dormir orgulhoso de mim: Polenta com bolonhesa deliciosa, – me perdoem o tom jactancioso (há tempos queria usar essa palavra que aprendi no livro Todas as Almas do recém falecido Javier Marías) -, louças limpas, roupas lavadas e retiradas do varal do quintal e acomodadas no varalzinho portátil, na área da churrasqueira, pois eu li que às 4h havia 38% de chance de chuva.

Me deitei feliz, com a certeza de hoje ter driblado São Pedro. 

A chuva não só veio, como se adiantou. À 1h já chovia, às 5h, também. Fiz xixi e voltei a dormir orgulhoso de ter tirado a roupa do varal.

Então, nesta manhã de terça-feira, minha neta entrou no meu quarto anunciando o acontecimento: Nonno, o Nicolau está dormindo em cima da roupa do varalzinho. 

Nicolau é o gato que apareceu aqui faz mais de um ano. Chegou esquelético e hoje tá gordo… Ele sabe que não gosto de barulho, mas se atraso 5 minutos para lhe colocar ração ele mia mia mia… me torturando.

Quando vi o varalzinho, vi que não era apenas o gato sobre a roupa. Ele estava no chão. As roupas postas ali quase secas estavam encharcadas. O chão todo molhado. 

É como se São Pedro quisesse me mostrar quem é que é o esperto de nossa relação. Cheguei até a ouvir suas gargalhadas de deboche diante da minha arrogante esperteza que me embalou o sono de ontem para hoje.

O que me restou? Colocar as roupas na máquina. Tudo de novo. Não li a previsão, mas pelo cheiro que paira no ar, me parece, ela vai cair novamente… 

A benção São Pedro.

Saudades de quando eu jogava a roupa suja no cesto na segunda-feira e na sexta-feira, como “mágica”, ela aparecia limpa, passada, pronta para uso no meu closet.

Em tempos de pesquisas, sempre é bom a gente lembrar: Viver é imprevisível, incontrolável e acidental. Esse é um mantra que adotei há muitos e muitos anos. Diante do inusitado o mínimo é estar preparado.

Comentários