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Quando fui dormir, o Ipê maior na calçada de casa estava com seus galhos habituais. Acho que seguia igual quando saí nesta quarta-feira, Dia da Árvore, às 8h. Mas ao voltar na hora do almoço, suas flores tinham desabrochado. E iluminado o céu cinza. 

Na parte de trás do Parque Campolim, dezenas de Ipê de florada rosa também floresceram… Uma sinfonia de tom, ritmo e harmonia. 

Não estou mudando o estilo de escrever, respondo a quem me dirigiu essa pergunta e, também, aos que pensam, mas não se dirigem a mim. Sigo escrevendo sobre o que vivo. Nesse sentido, eu mudei, mas não o que eu escrevo que é, e sempre foi, o que percebo.

A cada flor de Ipê que nasce (primeiro foram os roxos e depois os amarelos, em casa há rosa e branco) brilhante, vívido, firme no seu galho vejo a singeleza de uma vida. Apenas por uma semana elas estão lá no alto, depois se transformam em tapete e cobrem o chão. Lindo demais! Então as flores mortas se transforma em sujeira, gosma escorregadia.

O Ipê, que renasce todo início de Primavera, testemunha o caminho de um homem denunciando seus próprios rastros neste último ano, onde ficou mais acentuado o branco dos cabelos que cercam minha cabeça careca.

Ao tirar a foto que ilustra essa postagem, me dou conta que estou aqui nesta casa há dez anos e, também, que apenas nos últimos dois tenho atribuído significado à sua florada, o significado de me lembrar o quanto estive ocupado cultivando algum cargo que me dava dinheiro e status quo!!! E nada mais. Não restou nada, foi verdadeiro desperdício de onde olhar. Tudo que tenho, desfruto, é do significado que atribuo a quem e ao que me dedico.

Então… Minha escrita é a mesma. Meu olhar, não. 

O rosa de hoje no alto do Ipê de minha calçada é a prova de que esse ano existiu. O tapete no chão na próxima semana vai demonstrar que ele acabou. E a gosma na segunda-feira seguinte, dia 3 de outubro, vai botar fim ao pesadelo que vivo. Quando florir o Ipê branco, espero, já estar vivendo sob o signo da paz e da reconstrução desses 1460 dias de desprezo, mortes e violência física, intelectual, moral, ética e de falta de sensibilidade.

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