(…)
– Está difícil… A gente não pode nem dar uns tapas hoje em dia na mulher que já vai para a cadeia.
– Tem que ir mesmo, onde já se viu bater na mulher…
– Mas ela pode berrar e falar besteira na nossa cara!? Sua frase saiu um tanto exclamação e um tanto pergunta.
– Não pode também…
Então a conversa foi interrompida por uma mulher, filha do homem que se ressentia de ir preso se voltar a bater na mulher, e, simultaneamente, esposa do homem que reprendia o mais velho. Ela disse: Somos evangélicos, Deus vem antes desses assuntos de política.
Então eu, que passei a prestar atenção do meio da conversa, fiquei totalmente concentrado no que acontecia na mesinha ao meu lado na banca do pastel da feira da Vila Jardine, isso no domingo passado.
O senhor não disse nada, apenas se levantou e saiu. Imaginei que ele foi comprar algo. A filha virou para o marido e disse para ele parar de falar de política que ele não ia mudar o pai dela. E que ele sempre pensou assim. E, ela afirmou: Ele é bolsonarista desde antes do Bolsonaro. O marido não disse nada e também saiu.
A filha, com cara de indignação, virou para a mãe, uma senhora com cara de sofrimento, e foi direta: Ele bate na senhora? Hoje em dia só de vez em quando. Eu aprendi a não falar mais nada. A filha soltou um suspiro de indignação ainda maior: Mãaaaeeeeee… Lhe deu um abraço. As duas ficaram juntinhas…
Então quem se levantou, e foi embora, fui eu.