Irmã Beatriz 

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Entregador de bicicleta por aplicativo; professor na academia de ginástica; balconista da padaria; dono do carrinho de lanche; vendedora de anúncio publicitário de rádio; aposentada do serviço público; vendedor de frutas na barraca da feira; irmã de uma moça que morreu na fila do posto de saúde e ela usou sua rede para “denunciar” a falta de vaga em UTI; advogado que deu entrada na UTI com Covid19 junto da esposa, ele saiu e ela morreu…

Esses são exemplos de sorocabanos que tornaram público seu voto em Bolsonaro na eleição de ontem. Não há ódio ao PT, Lula, petista, petismo e lulistas e lulismo que justifique essa escolha, ainda mais com as opções que haviam, inclusive o esdrúxulo travestido de representante de uma igreja inventada por ele. 

Penso numa querida me dizendo que a ignorância dessa gente, negando as próprias origens, é o que existe de mais estúpido entre as pessoas que tentaram emplacar mais um período do atual governo. 

O entregador por aplicativo e o dono do carrinho de lanche se sentem empresários? E as pessoas dos outros exemplos que colhi, se sentem o que? 

Quem depende do dinheiro do salário para viver, e não importa se é bastante a ponto de poder poupar ou pouco que nem o básico consegue pagar, é pobre. Rico é quem vive de renda das propriedades que herdou ou comprou, é quem ganha dinheiro com o trabalho de outro.

Mas difícil mesmo é entender o voto de quem quase morreu de Covid19 e perdeu a mulher entubada. Além de desqualificar a doença, o atual presidente atrasou o processo de compra, produção e aplicação da vacina criando mentiras sobre os seus efeitos, tendo cooptado quem está assolado na ignorância e se tornou negacionista e pregou o uso de vermífugo para se proteger, o que seria uma piada não fosse verdade. Se não foi ontem no voto, será quando o troco nessa estupidez? E o desrespeito com quem perdeu um ente, dizendo não ser coveiro! Não consigo entender…

Mulheres defendendo o voto no presidente é outro estertor, aberração. Além de as considerarem frutos de uma fraquejada, também defende que tenham salários menores de que dos homens. Não consigo entender…

Talvez a Beatriz me ajude nessa tarefa.

Ela é a jovem (suponho que nem tenha 25 anos) e trabalha cobrando pedágio dos motoristas que trafegam na Castello Branco. Ontem, às 17h17, no pedágio de Itapevi, eu lhe disse: Se tivesse visto que esta é a cabine 22 eu teria ido na outra. Ela respondeu: É por causa do Bolsonaro? É, eu disse. Eu votei nele, ela respondeu. Como, ele não é bom para pobre igual nós… Se fez um hiato. Li no seu rosto algo como: Igual a nós? E então ela disse: Ele vai botar ordem, irmão. Eu, num tom errado, pois saiu elevada demais a minha voz, com indignação, perguntei: Ordem onde? No que? Ela, com expressão de acuada, não falou nada. Eu insisti. Ela ficou corada, tímida, e se manteve em silêncio.

A buzina do carro atrás de mim fez eu partir.

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