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Uma pessoa importante na minha vida se dirigiu a mim, chamando minha atenção, pelo fato de eu ter demonstrado afeto para uma outra que se posicionou como eleitora do Bolsonaro. “É absurdo você se relacionar com fascista. Não tem perdão para essa gente…”, ela me disse.

Uma outra pessoa, com essa não tenho nenhuma relação ou proximidade, me disse que é absurdo achar que dá pra conversar com quem vota no inominável… 

Uma terceira, essa bem querida, me indagou mais pela reflexão e não pela resposta:  Como será o dia seguinte da eleição? Metade será ganhadora e metade derrotada. Saímos mais divididos do que entramos, concluiu ela.

Caberá aos mais jovens essa aproximação, penso eu. 

Me sinto sem paciência e há mais intolerância do que fé no outro em mim nesse momento. 

A prova disso vem de situação banal, como da professora que mudou a dinâmica da aula de hidroginástica e mandou que uma série de exercícios fosse feita com halteres e outra sem, mas… e essa foi a mudança… com um aluno passando os halteres a outro ao invés de cada um ter seus próprios halteres. Eu torci o nariz para a proposta, mas não tive tempo de falar pois uma senhora foi mais rápida e disse em alto e bom som que preferia fazer sozinha. Eu endossei. No final ela e eu apenas fizemos os exercícios sozinhos e ouvimos da jovem professora, claramente inexperiente, seu desapontamento: Nossa, como vocês são antissociais!

Nosso momento se explica, talvez, pelo existencialismo de Jean-Paul Sartre quando disse “o inferno são os outros”. No nosso caso, não importa se os votos são do ponto de vista é bolsonarista ou lulista. 

O inferno é esse desconforto provocado pela militância dos detalhes como o de um amigo, num grupo de WhatsApp, responder a uma pergunta sem conotação política com a afirmação: me parece um petista… Pois não é que imediatamente pensei: parece o contrário, um bolsonarista… Nesse grupo, a maioria não é lulista ou bolsonarista; são homens antibolsonaro e antilula.

Por isso a missão de construir alternativas para a convivência das metades é dos jovens, aqueles ainda sem convicções.  Em tempo: Não é preciso ser matemático para saber que nem sempre duas metades  formam um inteiro.

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