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Um amigo, 68 anos, bem-sucedido economicamente, com várias casa próprias, inclusive uma no sul da Flórida, nos Estados Unidos, onde ele vai passear alguns meses ao ano, que viaja para os  lugares de todo mundo que deseja, que deixará suas empresas aos filhos… Enfim, ele é o tipo que tem dinheiro. Aquela gente que escolhe o que comer e beber pelo que está apenas do lado esquerdo do cardápio quando está num restaurante.

Esse amigo amanheceu sábado bastante animado com o discurso de Bolsonaro, na véspera. Eu ignoro tudo o que o ainda presidente diz. Mas me pareceu que seu discurso animou o meu amigo. 

Ele me disse que Bolsonaro é estrategista e esperou 40 dias para se pronunciar por razões bélicas. E aproveitou a eliminação do Brasil na Copa do Catar, a tristeza do povo, para mexer com o coração dos patriotas.

Nessa hora, esse amigo fez um adendo: Não que você, no caso eu, não seja patriota. Mas eu falo dos seguidores do capitão, no caso ele. 

Voltando aos seus argumentos, esse amigo explicou que o capitão demorou 40 dias para falar porque foi o tempo que o Nine (é como ele se refere a Lula, que perdeu um dedo quando metalúrgico) levou para mostrar a que veio.

Meu amigo se referia ao anúncio de que Fernando Haddad, Flávio Dino e Rui Costa como ministros. Todos comunistas (sic)…, me disse, como se estivesse falando um grande xingamento dos três.

O capitão vai liderar e não vamos deixar o Brasil virar vermelho, me disse.

Antes que eu perguntasse, meu amigo falou: Você quer saber como né… 

No dia diplomação (por acaso hoje à tarde), me explicou ele, com todas as emissoras de TV ao vivo, transmitindo para o mundo, crau…

Crau é um som referente ao momento em que um cadeado é fechado ou caixa trancada ou porta fechando…

O sapão (outra forma como ele se refere a Lula) e seus sapinhos serão presos. Todo mundo em cana… ele me disse.

É uma imagem infantil essa. De novela das oito. De nenhuma conexão com a realidade. E isso, me parece, torna para pessoas como meu amigo plausível que esse discurso seja verdadeiro.

Por quê?

Por que, por que?

É… Qual o motivo?

Eu esperava que ele me dissesse a razão que justificasse a prisão. Mas meu amigo acha isso um detalhe. Ele está pensando mais adiante. 

Por que eu quero um Brasil melhor para minhas netas. O comunismo não é bom. Vão tirar tudo da gente. Olha os ministros, só comunistas… Será um governo vermelho, o Brasil vai acabar.

Há um tom verdadeiro na voz do meu amigo, ou seja, ele acredita no que fala. O teor fantasioso do conteúdo da sua fala é sentido, por ele, como fosse verdadeiro… A fala de meu amigo contém um temor real do comunismo, em suma. Ele vê como uma doença contagiosa e mortal. E não adianta dizer que isso é fantasioso. 

Para dar força ao ainda presidente, esse amigo ia dar uma passada na frente do quartel, dar uma força. 

Ficar lá? Não. Seria demais para ele. Tem a turma lá pra isso…, me disse.

Pensando comigo mesmo, não consigo entender como uma pessoa tão bem sucedida teme uma fantasia (comunismo), mas acha que é bobagem o problema real (meio ambiente) de aquecimento global, mudança climática e necessidade de alteração de hábitos de consumo e produção do que gera lixo em excesso.

Ele teme que os bens, milhões que ele acumulou, não cheguem até as filhas dos filhos dele, mas acha que é mentira quando lhes dizem que a água potável está em risco, que o ar está ficando insuportável de ser respirado… É coisa de comunista falar de meio ambiente, pensa ele. Ele não estará mais aqui quando sua neta tiver 30 anos (pode até estar, passar dos 100 anos logo será realidade) para ver como está equivocado.

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