Se eu não estiver enganado, o que não é difícil de acontecer, apenas em 2028 o dia de Natal será novamente em um domingo. Isso porque 2024 e 2028 serão anos bissextos.
Um alívio para gente sistemática, como eu, que espera o domingo para ir à feira. Não porque apenas na feira se ache frutas, verduras, ovos, legumes, doces, frios, temperos, roupas, garapa, pastel… Hoje se acha isso em qualquer mercado de bairro. Mas por que a feira é um lugar real, um bálsamo para quem está muito presente no mundo virtual onde predominantemente a aparência é o mais importante.
Ir à feira tem o mesmo sentido de quando eu viajo. É a oportunidade à necessidade de algo novo. Coisa que nunca acontece. Então resta desfrutar do conforto da rotina.
Na feira, não se escondem os defeitos e se encontra gente de verdade. E minha feira é a de domingo. Tem em todos os outros dias, exceto na segunda-feira. Mas eu só vou de domingo. É lá que eu compro banana e cebola que o seu Zé planta. Que eu compro cheiro verde, couve, mandioca… tudo da plantação do seu Carlos. Que eu compro frutas na barraca do Tuco, muitas plantadas na Caputera, que trabalha com seus dois filhos e o Eliel. Que compro pastel na banca da Meire. Que eu compro ovo na banca da moça que herdou do pai esse ofício e já prepara o filho, de apenas 10 anos, para assumir o negócio…
Ir à feira é como uma terapia.
Eu sei um pouquinho sobre quem vende e compra. A moça do doce que caiu da moto; o senhor do queijo que depois de 50 anos fazendo feira está ficando caduco (sic), Alzheimer; que a mulher do pastel não teve filhos, mas cuida de um monte de sobrinhas; que o senhorzinho da banca de laranja não é dono e nem empregado da barraca, mas um morador solitário que espera a feira de domingo para sair de casa…
Eu não sei o que eles sabem de mim. Sei o que eles me perguntam. Nos últimos tempos queriam saber porque não era boa a continuação do atual governo. Dos outros fregueses, eles sabiam porque continuar.
Não consigo falar nada sobre mim. Nem quando fui candidato a vereador eu pedi voto para eles. Eu apenas observava a enxurrada de candidatos, que nunca vão à feira, sem pudor algum, implorando o voto, incomodando. Não contei que eu lancei um livro. Nem que tenho este blog. Que eu tenho duas filhas, uma neta e outra que vai nascer já já… Quando aparecer uma oportunidade eu vou contar.
Eu senti falta da feira de ontem. E terei de ter paciência, afinal domingo que vem, feriado mundial, de primeiro dia de ano, novamente não terá. Não que eu ache que os feirantes tenham que ter trabalhado no Natal e Ano Novo. Ao contrário, acho que merecem festejar como todos nós. Mas o que eu acho certo e justo não é suficiente para eu não sentir falta. Uma coisa não anula a outra. Como tudo na vida, aliás.
A imagem que ilustra essa postagem é de Ottone Zorlini e se chama “Feira livre, Treviso”, de 1954. É um nanquim sobre papel com a dimensões: 25 x 34,8 cm.