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Nos últimos dias de 2022, as mortes de Pelé, Vivienne Westwood e Bento 16 reviraram a memória de pessoas em todo o mundo, independentemente se fosse fã de futebol, gostasse da moda punk ou fosse católico.

Pelé em 21 anos como jogador de futebol fez 1.283 gols, números que não serão batidos tão cedo. Mas é onde a estatística não tem sentido que ele fez primeiro o que ninguém fez tão bem nem antes e nem depois dele: Mexeu com instintos, paixões individuais e sentimentos tão ímpares pertencentes a cada cidadão. Pelé teve esse poder despertar o que é único em cada um que vê futebol.

O Édson? Édson Arantes do Nascimento, o cidadão, não o jogador, esse vem sendo execrado por não ter reconhecido a filha Sandra mesmo ela tendo implorado sua atenção. O mais óbvio era ele ter atendido ao pedido dela, à beira da morte devido a um câncer, e feito o jogo midiático, ter sido falso e evitado toda dor e desgaste público de seu não à Sandra. Bastava um sim mentiroso e todos ficariam felizes. Nunca saberemos que mágoa o manteve tão firme em sua negação nas últimas décadas de seus 82 anos.

Vivienne, em seu nicho, tão restrito como ele só, se transformou nos anos 70 em ícone da moda ao vestir o Sex Pistols mesmo antes deles se tornarem o que ainda hoje são. E até a sua morte, aos 81 anos, no dia 29 de dezembro, vinha se reinventando. Deixou um legado que vai durar muito. 

Como poucos outros estilistas, ela captou o sentimento das ruas e o colocou em roupas. Fez da T-Shirts um mural capaz de levar ao mundo, mesmo o de outros idiomas, o seu ativismo. Sua mensagem esteve na forma e em sua harmonia com o conteúdo. 

Ter uma peça com a sua etiqueta não é para qualquer um. É preciso muito, muito dinheiro, mas principalmente atitude, visão de mundo e autoestima bem resolvidos.

Bento 16… o papa sisudo!

Esse é um equívoco que as pessoas cometeram com ele e cometem deliberadamente contra qualquer um que seja tímido.

Ninguém se torna papa para ser pop, como diz o refrão do rock brasileiro. Menos ainda o cardeal alemão Joseph Ratzinger. O papa é alguém, entre os que atendaram a vocação, jovenzinho, de ser padre, estudou e fez carreira para se tornar bispo, cardeal e assim estar apto para ser eleito… É um jogo de poder e articulação de interesses políticos, sociais, culturais e econômicos como de qualquer outra eleição, que faz de alguém, o Papa.

Bento 16, de modo chulo, ficou reduzido ao Papa que renunciou, e não morreu, para deixar o papado. Sua importância e o significado de sua obra, seguramente, estão além disso. E começou com o cardeal Ratzinger demonstrando a incapacidade da Teoria da Libertação para tirar os menos favorecidos da miséria, afirmando que o marxismo priva o cidadão de sua liberdade individual. Igualmente, ele teve a lucidez de demonstrar que o capitalismo aniquila a dignidade individual e coletiva do cidadão. Apontou que os dois caminhos não são os melhores. Bento 16 morreu aos 95 anos no último sábado de 2022.

Com o novo ano começando, desejo que a caminhada de 2023 se dê sob a influência dessas três lideranças que vidas longevas tiveram naquilo que as obras deles os une: Nos lembrar que somos humanos, únicos, individuais e não devemos abrir mão dessas características, mas fazer delas instrumentos para que possamos viver em comunidade e em comunhão com valores que beneficiem a coletividade. Não apenas a individualidade.

Um mergulho na individualidade, portanto, como mostram as vidas de Vivienne, Bento 16 e Pelé é a possibilidade de um passo em direção a nós mesmos, o verdadeiro sentido de existir.

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