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O tradutor Claudio Willer morreu aos 82 anos na última sexta-feira em São Paulo depois de passar meses internado devido a um câncer na bexiga.

Autor de sete livros de poesia e seis de prosa/ ensaios, seu papel de tradutor fez dele alguém importante para mim. E, seguramente, para outras milhares de pessoas que descobriram pelo seu trabalho um movimento de autores até desconhecidos por aqui.

É dele a tradução de “Uivo” e outros poemas de Allen Ginsberg, “Livro de haicais”, de Jack Kerouac, “As pessoas parecem flores finalmente”, de Charles Bukowski.

Quando eu li “Crônicas de um amor louco”, esse também de Bukowski, eu tinha 14 anos de idade, um pouco mais, talvez, e descobri que o sentimento que pulsava em mim não era exclusividade meu e, portanto, eu não estava sozinho no mundo. O que não é pouco. É desse livro a frase, saindo da boca de Cass: “(…) Beleza não vale nada e depois não dura. Você nem sabe a sorte que tem de ser feio. Assim, quando alguém simpatiza contigo, já sabe que é por outra razão (…)”.

Depois vieram outros livros: “Pé na estrada”, “Uivo”, “Almoço nu”…

Seus autores, William S. Burroughs, Irwin Allen Ginsberg, Jack Kerouac, Charles Bukowski, só foram possíveis de chegar por aqui porque havia o interesse, trabalho e talento de Cláudio Willer e outros, claro,.

É dele o livro “Os rebeldes” que apresenta e explica a Geração Beat, nome dado ao pequeno grupo de poetas e escritores marginais surgido nos Estados Unidos da década de 1950, e que se consolidou em um movimento pela identificação de milhares de outras pessoas em todo mundo. 

A morte de Willer é a oportunidade para agradecer o que ele fez por nós ao trazer esses autores à nossa realidade, abrindo caminho para o interesse por outros autores, livros e movimentos.

Sandra Gasques, minha amiga desde a adolescência, fez uma tocante homenagem ao publicar esse texto em sua página de Facebook: “O poeta, tradutor e ensaísta Claudio Willer se foi nesta sexta-feira. Ele me deu a chave de uma porta que me levou a Kerouac, Ginsberg, Burroughs, Fante, Bukowski, Blake, Rimbaud, Hemingway, Artaud e tantos outros. Assim conheci os loucos, os rebeldes, os malditos. E, sim, isso com certeza teve impacto na construção do que sou, com essa pitada de atrevimento que nos movimenta, leva ao lado escuro da lua e faz questionar sobre para onde marcha o rebanho. Inesquecível! Minha gratidão!”

Adorei essa figura de linguagem usada por Sandra, o de nos ter dado a chave. É exatamente o meu sentimento. Uma porta se abriu e um mundo novo estava a ser conhecido.

É momento também de agradecer a Biblioteca Municipal de Sorocaba que sempre tinha um exemplar de um desses livros para seus leitores. E o meu agradecimento tem nome, Marisa Pelegrino. Nunca ela teve o reconhecimento que ela merece pelo trabalho que fez. Marisa foi pioneira ao dar vida à primeira biblioteca municipal da cidade que viveu décadas, ou mais, sem esse aparato até que o prefeito Flávio Chaves, em 1978, a criou.

Lembrar disso tudo em meio a momento tão obtuso de nossa história mostra o quanto a literatura é fundamental para que a mente não se atrofie. Bolsonaro, que agora sabemos os milhões de dinheiro público roubados no cartão corporativo para pagar padaria, hotel, posto de gasolina… não gastou nada, nem um centavo, comprando um livro.

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