Compartilhar

A criação do Bloco Depois A Gente Se Vira, ou simplesmente Bloco do Depois (que abriu o Carnaval na sexta-feira, como faz há 37 anos), aconteceu no Bar Depois de propriedade do professor Nilo, o Nilo Seiffert, que tocava a operação comercial do estabelecimento tendo como braço direito, esquerdo, ombro, pernas… Fernandinho, o garçom mais neutro que um bar poderia ter. Nilo tinha Simonetti como sócio e vez ou outra ele aparecia no bar. Engenheiro mecânico e restaurador de carros, nunca soube como eles viraram sócios.

Nilo não era e nunca foi do PT, embora tenha votado em Lula em situações como a do ano passado, por exemplo. Mas os petistas também frequentavam seu bar. Digo também porque lá era o reduto da ala esquerda tucana, por exemplo, Beca era assíduo no local e presidia o diretório do PSDB, enquanto o partido era social-democrata. O arquiteto Francis Monteiro, também habitual frequentador, presidia o PV, o original, de Gabeira… Nilo era brizolista. Em tempos extremistas, como o de hoje, onde quem não é petista é bolsonarista e vice-versa, essa nuance de ser de esquerda, mas não petista, não é compreendida. Eu, tampouco, não estou disposto a explicar. 

O fato é que o bar virou um polo de atração e sextas-feiras e sábado, para atender com dignidade a freguesia, Nilo e Fernandinho precisavam de ajuda. Então, Armando Oliveira Lima, que nos anos 60 havia criado a Editora ELU, que publicou o primeiro Flaubert que eu li, era ativista da Academia Sorocabana de Letras, autor e diretor de teatro, fumante de acender um na bituca do outro, começou a também fazer as vezes de garçom. Mas logo percebeu que aquilo não era pra ele. O bom garçom é o que chega, serve e sai da mesa praticamente sem ser notado. Algo impossível a Armando. Então, Fernandinho ganhou um novo ajudante: Deda. Sim, eu mesmo. Depois um outro, Baretta (seria esse mesmo o seu nome?), um estudante da Faculdade de Engenharia. 

Então, na passagem do ano de fundação do bar para o seguinte, surge a ideia de se fazer um bloco de Carnaval. Nilo, um apaixonado pela boemia carioca, fã de Noel Rosa, Cartola e Chico Buarque, quis trazer um pouco dessa poesia ao seu bar, Armando queria o mesmo para sua cidade. Assim nasceu o bloco, da vontade dos dois e, claro, de outros que ali frequentavam.

Me lembro de que havia um livro-ata sobre a criação do bloco. Um texto explicando as razões e finalidade do bloco, sobretudo um texto poético. Certamente há ali a explicação para o “sobrenome” ao nome do bar. Talvez, até o porquê do nome do bar.

Se sucederam as assinaturas no livro-ata no dia da fundação, onde todos frequentadores assinaram como testemunhas ou cofundadores. O livro-ata corria de mão em mão sob a supervisão do Armando. Quando se imaginava que todos haviam assinado, Nilo perguntou se eu havia assinado. Se não me engano, a minha foi a última assinatura a ficar ali. Se outras surgiram depois, foram colocadas em outro dia, não no da fundação. 

Nilo saiu da administração do bar alguns poucos anos depois. E o bar saiu da avenida Eugênio Salerno, onde nasceu, e foi pra rua Aparecida e chegou na Cônego Januário Barbosa onde está ainda hoje sob o seu quarto ou quinto dono.

O bloco, não sei em qual momento, se desvinculou do bar e ganhou vida própria. Não sei sob qual figura jurídica, mas o fato é que o bloco virou um reduto de petistas. Desde as pessoas que estão na sua organização, definição de homenageados, feijoada e, principalmente, pela maciça presença de filiados e simpatizantes do partido no único dia anual do desfile, a sexta-feira de Carnaval.

Não me lembro nada, nem o teor do texto do Nilo e Armando do livro-ata, mas não era político-partidário e muito menos petista, disso estou certo. O brizolismo de Nilo e Armando era o da esquerda dos livros, da escola, da filosofia de Darcy Ribeiro. O PT, particularmente o de Sorocaba, naquela época assim como ainda é nos dias de hoje, é o sindicalista. É o PT do Sindicato dos Professores, dos Metalúrgicos, dos Motoristas… É, também, o PT que acolhe os artistas. Primeiramente com Mantovani, o saudoso criador teatral, ultimamente com músicos, intérpretes, artistas plásticos, portal de notícias…

Na foto, estão: Gerssão, Francis, Nilo, Beca e Simonetti

Comentários