Não sei a circunstância, mas se tornou impossível não saber do fato: Dalai-lama, o líder religioso glorificado em todo o Planeta, pediu para que uma criança chupasse a sua língua.
Minha primeira reação foi de nojo. Depois de incredulidade. Depois pensar numa “falha” em seu sistema Ego, Id e Superego, deixando aflorar sua verdade…
Há uma enxurrada de opiniões sobre este fato, quase, senão todas, posições tendo esse senhor de 87 anos, e tudo o que ele representa, como foco.
Eu estou pensando na criança…
Em todas as crianças alvo dos dalai-lamas, padres, pastores, bispos e outros tantos líderes em posição de poder sobre inocentes.
Nunca me aconteceu o que aconteceu com esse menino e dalai-lama. Mas quando eu tinha 3 anos de idade e havia acabado de me mudar para a casa onde meus pais ficaram até morrer, na casa vizinha de parede morava um menino e uma menina mais velhos, mas crianças ainda. Talvez 10, 12 anos.
O menino deu uma martelada em minha mão assim que subi no tanque de lavar roupas no quintal de casa para olhar sobre o muro no quintal da casa dele. Tirei a mão antes da martelada e, sem apoio, caí dentro do tanque. Como era pequeno, não tinha peso para estragar o tanque ou me machucar. Minha mãe, quando lhe contei, me falou: Quem mandou subir no muro dele, não suba mais. Não subi.
Um bom tempo depois, a irmã dele me convenceu a ir brincar no quintal dela, quintal esse que podia ser visto de casa. E a brincadeira era de médico. Ela médica e eu o paciente. Tive que tirar a roupa, mas meu shorts tinha botão e cinto de pano do próprio shorts. Eu não conseguia tirar. Ela veio abrir. E do alto da escada da porta da cozinha de casa, que levava ao quintal, minha mãe apareceu e deu um berro: O que está acontecendo aí? A menina entrou em pânico e eu também. Venha já aqui, disse minha mãe. Nunca mais fui lá. Eu não tinha noção do que estava acontecendo, mas sabia que era algo muito errado.
No domingo seguinte, descendo a rua João Nascimento, voltando da missa, eu agarrei na perna da minha mãe que estava conversando com algumas amigas. Ela estranhou e quis saber o que motivo. Eu disse nada. Apenas afrouxei a força, mas segui grudado na perna dela. Meu olhar e o da menina vizinha se cruzaram. Ela subia a rua. Eu tive muito medo. Eu não podia dizer nada. Por muito tempo, eu não ia a lugar nenhum. Ficava grudado na perna da minha mãe. Ela compreendia minha necessidade. Aos poucos fui ganhando confiança, ainda mais quando um dia descobri que os irmãos vizinhos haviam se mudado.
Eu penso nisso tudo ao olhar para esse menino vítima do dalai-lama. Espero que ele tenha uma mãe para segurar na perna dela. Uma mãe que compreenda a sua necessidade.