Memória afetiva

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A avó paterna da minha neta mais velha me surpreendeu ao me dar os parabéns pela passagem de meu aniversário de 56 anos, sábado passado, me oferecendo coxinhas. 

Não uma coxinha qualquer, mas com a receita de minha mãe feita com farinha de trigo no brodo (caldo onde ela própria cozinhava o peito de frango com a pele). Para o recheio, o peito, sem pele, desfiado e refogado com pouco tomate sem pele e sementes, apenas para dar uma cor, e pimenta vermelha. 

Ela me deu cruas. De modo que em casa eu as fritei e comi em seguida como deve ser. Há uma diferença abismal entre uma coxinha frita na hora de comer e outra comida da estufa, horas depois de ter sido frita.

Estavam tão boas!

A coxinha é uma tradição paulista e há quem diga que ela nasceu do improviso de uma cozinheira nos tempos de Dom Pedro II. Diz a lenda que um dos filhos da Princesa Isabel morava em uma fazenda da cidade de Limeira e o menino adorava coxas de frango, mas uma hora elas acabaram e a cozinheira, então, improvisou fazendo a coxinha como a conhecemos.

A popularização da coxinha, porém, teria vindo muitas décadas depois durante o processo de industrialização de São Paulo. A coxinha teria sido a forma de oferecer um lanche em lanchonetes e nas portas das fábricas da época. Dessa forma, o salgado feito a base de trigo e frango fez sucesso e se espalhou na década de 1950 pelo Rio de Janeiro e Paraná.

Os franceses, porém, acreditam que eles inventaram a coxinha dizendo que a primeira referência à coxinha aparece no livro do chef francês Marie-Antoine Carême, conhecido como o “rei dos chefs e chef dos reis”. A publicação de 1844 fala do croquette de poulet, um croquete de frango moldado em forma de pêra.

Em 2006, o jornal Bom Dia, eu era editor em Sorocaba à época, por iniciativa de seu então publisher, Matinas Suzuki Jr., fez um concurso para seus eleitores, via votação em cédula, escolhessem as 7 Maravilhas de Sorocaba. 

Surpreendentemente, por influência de Matinas, essas maravilhas não precisam ser necessariamente prédios, edificações, obras, mas algo imaterial. 

Assim, entre as sete maravilhas sorocabanas, figurou a “Coxinha da Real”. Os donos se surpreenderam e logo fizeram desse salgado o símbolo e carro-chefe do marketing da padaria.

Em São Paulo, numa reunião com pessoas de diferentes partes, sem que as pessoas soubessem de onde eu era, alguém perguntou se já haviam comido a coxinha de Sorocaba.

Uma outra vez, na transmissão de um jogo do Palmeiras pela rádio Band News, decide mandar uma mensagem, como milhares de ouvintes fazem. O critério é abrir dizendo seu nome e local onde está. Ao final, o Denílson, ex-jogador e comentarista, brincou: Esse é da terra da coxinha…

Na banca de pastel da Meire, onde vou todo domingo, tem coxinha também. Mas nunca comi. São gigantes, aposto que são mais de 300 gramas cada uma.

Me lembro de quando meu primeiro namoro de jovem começou a “ficar sério”, e eu era chamado para jantar na casa dela, na presença dos pais. Antes de ir para lá eu parava num boteco no Mercadão de Campinas e forrava o estômago com uma, às vezes duas, coxinha. Eles comiam iguais passarinho. Meu prato sempre foi de pedreiro.

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