Chántão

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Festa Junina era um acontecimento quando eu era criança, por volta dos 6, 7 anos, porque “alguém” organizava Corrida da Colher com um ovo, Corrida do Saco, Pau de Sebo… 

Tudo acontecia num terreno de esquina que existe até hoje como terreno, no cruzamento das ruas Moreira Cabral com João Nascimento. Curiosamente nunca foi feita nenhuma edificação nele, apesar de ser propriedade particular.

Penso que esse alguém, da organização, fosse o Vadeco e o mísero dinheiro que ele pudesse arrecadar ali fosse para a sua Escola de Samba. Mas, se o organizador foi outro não me surpreenderia. Só tenho uma certeza, não era o poder público. A única coisa que existia, nos anos 70, do poder público era a escola. Nem SUS (Sistema Único de Saúde) havia ainda. Quando se ficava doente, ia na farmácia.

Quando eu estava um pouco maior, com 9, 10 anos, me lembro de ter dançado na quadrilha do Genésio Machado. Barbicha e bigode feitos com o carvão da ponta queimada de uma rolha. Havia até ensaio.

Me lembro de ter ganhado um frango assado na rifa da festa da Igreja Santa Rita e o bicho ter sido devorado em segundos por nossa turminha. Nossas roupas “de domingo” ficaram lambuzadas com a gordura.

Mas foi na virada dos anos 70 para os 80, quando eu tinha 12, 13, 14 anos, que a Festa Junina se tornou algo pelo qual eu esperava ansiosamente o ano todo: A Festa Junina do CIC. CIC é o nome do local onde está construído o estádio municipal de futebol de Sorocaba. Uma área gigante na frente do estádio de terra e pedra era ocupada por barracas de comida e parque de diversão com Carrinho Bate-bate, Roda Gigante, Trem Fantasma, espingarda de pressão, argolas… Era um lugar de encontro dos hormônios em ebulição.

Mas, apesar disso tudo, há apenas uma única Festa Junina da qual realmente eu tenho saudades. Ela foi feita na rua, que ficou fechada aos carros, bem na frente da casa da minha mãe, da dona Maria, dona Íris e dona Alfa. Festa minúscula, mas de forte envolvimento das famílias. Carinho, comida e música. Seo Kobo tocou sanfona. Era uma energia vibrante. Não me lembro de uma segunda edição dessa festa. O que não quer dizer que não tenha ocorrido. Pois eu já tinha ido embora.

Nos últimos nove anos, Festa Junina virou visita à escola de minha neta para vê-la de “caipirinha”. Neste ano ainda tomei Chántão, pois Quentão que é Quentão leva pinga e no da festinha dela não tinha. Era um chá de gengibre. Gostosinho, mas chá.

Apesar de Santo Antônio, dia 13; São João, 24; e São Pedro, 29; apesar no fervoroso ambiente católico no qual fui criado, Festa Junina nunca foi de motivação religiosa para mim. Nem lá em casa. Sempre foi sinônimo de comida típica dessa época, de encontrar quem não se via há algum tempo, de pensar como o tempo voa. Metade do ano já foi!

Para a economia informal, Festa Junina é o momento das entidades assistenciais e filantrópicas faturarem para manter o fluxo de caixa do ano. No sábado passado, para se ter uma ideia, em apenas uma festinha de escola foram vendidos 2 mil pastéis em uma única barraca. Não é pouco!

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