Quando me interessei pela origem da minha família, ou melhor, quando me interessei pela origem do meu sobrenome (só me foi colocado o paterno) passei a me dedicar a entender onde havia quem, como eu, se chamasse Benette.
Num primeiro momento, achei que todos os Benette seriam parentes. Logo descobri Benetti, aliás o sobrenome original do meu nonno, o pai de meu pai que saiu da Pojana Maggiore, em Vicenza, em 1895 com 1 anos e alguns meses de idade; Benatti eu descobri num colega de turma na faculdade de jornalismo; William e Roy Bennett, escritores; Benotti, Benedetti, forma carinhosa com que meu saudoso amigo Carlos Magno me chamava nos momentos mais especiais de nossas vidas… e claro Bennett, mais especificamente Tony Bennett.
Na minha imaginação adolescente cheguei a pensar que Giovanni, meu nonno, que virou João Benetti por aqui e teve em sua carteira de imigrante registradas as profissões de jornaleiro, pedreiro e, a que mais me fascinava, domador de burro fosse tio do Antônio, ou Antony como ele ficou conhecido em Nova York onde o registro profissional lhe atribui a profissão de cantor.
Antony ou Tony Bennett viveu até sexta-feira quando foi anunciada a sua morte. Tinha 96 anos e, seguramente, a vida artística mais interessante dos seus colegas.
À glamorização da máfia (em Nova York com a trilogia O Poderoso Chefão de Martin Scorsese e Marlon Brando que depois li em livro, de mesmo nome, de Mário Puzo, exemplar emprestado pelo jornalista Joaquim de Carvalho; A Família Soprano de New Jersey, ainda hoje a minha série de TV preferida; até o livro Honra teu Pai onde um dos meus escritores preferidos, Gay Talese, narra a saga da Família Bonanno, uma reportagem, portanto verdadeira, com todas as características de literatura. Vale a pena ler) eu sempre associei Tony Bennett. E na minha fantasia adolescente seu parentesco de sobrinho do meu nonno e de primo com meu pai que, caso fosse vivo, estaria também com 96 anos, sendo que faria aniversário no final do ano.
Claro que cresci e essa fantasia se tornou apenas o que ela era e sempre foi, ou seja, minha fantasia de adolescente. Até porque Tony Bennett era o nome artístico do imigrante italiano Anthony Dominick Benedetto. Sim, Bennett foi invenção.
Nunca falei disso com ninguém. Ou melhor, uma vez, com meu amigo Carlos Magno, numa roda de conversa, quando nos servíamos de algum estimulante falávamos de nossos parentes famosos. Ler isso não tem a menor graça, mas naquele momento e ambiente garanto que proporcionaram boas gargalhadas.
Descanse em paz “tio”. Você foi extraordinário em cada fase de sua carreira inclusive fazendo duo com Amy Wainehouse, Paul McCartney e Lady Gaga. Sua presença, sua voz e sua música sempre serão um alumiar em minha vida.