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Fedegoso, o palhaço caipira, estava longe do picadeiro há bom tempo, agora foi a vez de Hudi da Rocha Camargo, o seu criador, aos 84 anos, nos deixar de maneira definitiva. Seu enterro aconteceu ontem e sua morte foi anunciada sábado. 

Era para dizer que o mundo do circo perdeu um dos seus palhaços, mas Fedegoso estará vivo na memória e história do circo nacional. 

Houve o renascimento de Fedegoso, há uma década ou mais, graças a sensibilidade de José Rubens Incao e sua mão de ferro ao conduzir a Biblioteca Infantil de Sorocaba tornando o prédio da rua da Penha uma ilha da cultura, instalando em seu quintal a tenda do Circo Guaraciava e, com isso, ressuscitando talentos como o de Hudi. Foi com o dinheiro da Linc (Lei de Incentivo à Cultura), foi com o Grupo Manto (nascido dos discípulos de Carlos Roberto Mantovani), mas foi sim com a determinação de Incao que o circo ocupou por bom tempo o quintal do histórico casarão.

Não foi nenhum secretário municipal, nenhum prefeito, nenhum jornalista que fez algo nesse sentido, Zé Rubens fez tudo sozinho.

A morte de Hudi é seu último ato, como disse o palhaço, arte-educador e produtor cultural Guilherme Telli: “Uma vida entregue ao picadeiro. Uma vida arrancando gargalhadas. Hudi Rocha, o maravilhoso Fedegoso. Não, me recuso a falar contigo em pretérito. Não, na verdade, você não se foi meu amigo. Só teu corpo não pode mais tropeçar e nos fazer rir ou debulharmo-nos em lágrimas com tuas serestas…ah, ninguém jamais cantará O Ébrio como tu. Mas só teu corpo em-canto, não mais desfrutaremos. Tua voz ecoa para sempre. Tua obra é para sempre…e sempre!”.

Eu não poderia dizer nada mais importante, íntimo e verdadeiro. Assino embaixo deste depoimento de Guilherme que teve a capacidade de condensar  Hudi e sua verdadeira importância à cultura. 

Me lembro do meu sentimento de orgulho ao ver Hudi na tela do cinema no maravilhoso filme “O Palhaço” de Selton Melo, um dos 100 mais importantes filmes nacionais. Hudi é Jurandir no filme, um mero coadjuvante, quase um figurante. Mas foi dele a oficina de preparação para Selton Melo brilhar em cena com o seu palhaço. Hudi está presente em cada pedacinho do filme. 

Me encantou ver que sua morte, depois de lutar nos últimos meses com problemas de saúde, tenha sido motivo para dezenas de homenagens pelo que ele fez nos mais diversos picadeiros como os muito bem iluminados, o caso do Circo Garcia, ou simplesmente naqueles de luz de lamparina e lampião. 

Viva o circo! Viva Hudi! Viva Fedegoso!

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