Confesso que tenho sentido nos últimos dias, quando meu livro, “O Filho do Açougueiro”, foi à gráfica, para a impressão, uma angústia, um frio na barriga, como me lembro de ter sentido em raras ocasiões de minha vida. Agora o livro não é mais meu. A história é a que for entendida pelo leitor. Só essa. Não é a que eu escrevi. Nem sei mais o que está ali naquelas páginas.
Há entre o jornalista e o leitor do jornal um acordo tácito de que é fugaz e passageiro o artigo da edição do dia. De amanhã haverá outro. Depois outro. E é esse dia-a-dia que dá sentido à relação jornalista-leitor-veículo. A existência se dá no tempo. No tempo longo. São elos de uma corrente que os une numa vida. Até que alguém quebra essa corrente.
O que há entre o autor, como meu caso, de uma ficção, que é do que se trata meu livro, e o leitor é absolutamente novo para mim. Não é o Deda, não é o Deda Questão, nomes que se apropriaram de mim, que escrevem “O Filho do Açougueiro”. Mas, a quem está se perguntando, você não é o Deda? Não é o Deda Questão? Sim, também sou, evidentemente. Mas há também em mim um sujeito que está adentro deles. Que pulsa mais fundo. Que não aparece nessas personas.
Estou certo que você, leitor, enfrenta esta mesma realidade ao desempenhar os papéis que exigem sua atuação ao longo de um dia qualquer. Quando diz que está tudo bem para o marido. Quando se mostra uma fortaleza para o filho. Quando exibe glamour nos corredores da repartição de seu trabalho. Quando está na missa, no bar, no clube, na festinha… Podem todas essas personagens terem um mesmo nome, mas não são sempre a mesma pessoa.
Em algum momento, quando esses papéis começam a se embaralhar ou um deles passa a se sobrepor aos outros, bate a insegurança. A minha é a de ter feito um livro bem feitinho. Bonitinho. Mas agora não é mais meu. Tá na gráfica. E sábado, no bar Sacrilégio, em São Paulo, será oficialmente lançado num evento feito pela Garoupa Editora.