Na eleição de 1985, eu tinha 18 anos e estava no auge de minha inocência a respeito de muitas coisas da vida, entre elas a de que seria possível acelerar qualquer mudança social através do voto. Dá pra mudar, mas não, acelerar.
O sociólogo Fernando Henrique Cardoso, conhecido por ser o primeiro presidente a ser reeleito e ter trazido a estabilidade da moeda criada em seu governo, o que não é pouco, naquele ano era um ilustre desconhecido. Mesmo assim franco favorito na eleição para a capital do Estado. Sentindo-se confortável nessa posição não resistiu ao convite de um repórter fotográfico e esparramou-se na cadeira de prefeito antes da eleição. Resultado, perdeu.
O ganhador do pleito daquele ano, ilustre no Brasil por ter renunciado ao cargo de presidente duas décadas anteriores, Jânio Quadros, antes de se sentar chamou os fotógrafos para registrar o instante em que ele higienizava a cadeira sentada fora do tempo por FHC.
Agora, a cadeirada desferida por Datena em Marçal.
O fato ocorrido durante o debate dos candidatos à prefeitura de São Paulo, na noite de domingo, na TV Cultura, ainda ressoa nas redes sociais, o que é um tanto óbvio, mas também na vida real, nas rodas de conversa no cafezinho da padaria, o que é espantoso levando em conta que tais assuntos estavam restritos ao mundo virtual.
A política, que vem sendo adjetivada há décadas, com termos que educam as pessoas dizendo-lhes que se trata de algo ruim, que serve para atender a interesses pessoais, a 20 dias da eleição deste ano, aos poucos entra no cotidiano das pessoas.
Política é emoção. Nunca houve um caso de alguém ter sido escolhido pela razão. Por isso tantas aberrações ocupando cargos. É o reflexo mais fiel do cidadão. Especialmente os parlamentos.
Quer saber quem é a sua cidade, olhe aos seus vereadores. O que está ali é o reflexo fiel da cidade onde você mora. O mesmo diz respeito à Câmara Federal. Talvez, também, essa seja a lógica da Assembléia Legislativa, embora eu tenha minhas dúvidas.
A cadeirada do Datena é sucesso pleno. Incrível o nível de aprovação da sociedade para a sua atitude. Entendo que a teatralidade do ato seja o elemento dessa aprovação. As pessoas, qualquer uma, entenderam o que ele fez. “Lavei a alma de milhões de brasileiros”, disse Datena após a cadeirada. É possível que ele esteja certo.
Mesmo assim eu não concordo com seu ato. Para mim a cadeirada é a negação da política. É desacreditar na possibilidade dos diferentes conviverem. É um comportamento primitivo.
A política foi criada para que fosse possível debater, discutir e questionar os temas que fazem a mediação social sem que fosse preciso a utilização da força e toda violência nela contida. A política estabelece regras, leis e normas, direitos e deveres na condução de ações públicas.
A cadeirada nega isso tudo.
Por mais engraçado que o ato tenha sido, não, não concordo com ele. Sou o mesmo ingênuo de 1985, acreditando que será possível um mundo melhor. A prova disso é que sou candidato a vereador. Nada mais racional que isso!