Um pai, imagino eu na faixa dos 35 anos, vive aquele momento da vida em que perde todo o status quo quando é despedido do seu emprego e se agarra à primeira oportunidade de trabalho razoavelmente segura.
Há uma família para ser sustentada, afinal.
Seu sentimento de impotência e sua dor por ser um fracassado passam a ser amenizados, primeiramente, num copo. Depois em algumas garrafas e quando se dá conta está chegando em cada de madrugada.
Então acontece algo definitivo: Esse homem, que adiava diariamente voltar para casa, se vê confrontado pelo filho, e alterado pelo álcool de suas diárias bebidas, lhe dá um tapa na cara, deixando a face do filho marcada pela palma de sua mão e dedos.
O pai e o menino não têm nomes, assim como a mãe e avô. São personagens centrais de “Em Campo Aberto”, livro de Cláudio Lovato Filho.
Esse conflito todo é descoberto página a página ao longo da história, seguramente, ao menos em minha opinião, a mais definitiva a respeito do que é um jogo de futebol, do que é a paixão por um time, na visão de um menino, de dois homens e uma mulher. Na visão de um menino brasileiro qualquer. Difícil quem gosta de futebol não se identicar com o que o livro nos conta.
A história, do começo ao fim, foca num clássico do futebol brasileiro. Pode ser um FlaFlu, um BaVi, um GreNal, um Majestoso ou qualquer outro grande jogo onde um time tricolor, o time de pai e do filho, esteja em campo. Pouco importa tamanha a capacidade narrativa de Lovato. É uma cidade grande, onde as pessoas moram em edifício e usam ônibus.
Confesso que chorei de soluçar em algumas passagens da história pela tensão do jogo, pela emoção de descobrir a dor do menino e a dor do pai e a expectativa da mãe.
É um livro sobre a temática (família) que mais me interessa enquanto leitor. É um livro que deveria ter virado um best-seller (o mais vendido) por sua qualidade literária. Mas esse mercado é cheio de mumunhas e conduz o comprador de livro a um caminho que nem sempre é o melhor do ponto de vista da qualidade da literatura, levando em conta o lucro com a venda do objeto livro. Aposto que este livro venderia sendo ótimo como é.
Fiquei feliz demais desse meu encontro com “Em Campo Aberto” que se deu ao acaso quando o encontrei numa prateleira debaixo num sebo. É um livro de 2011 que sempre estará absolutamente atual. Bom, ao menos enquanto existir o humano. Enquanto houver paixão pelo futebol.
Adorei este livro.