“Eu só queria que você voltasse” é a explosão de sentimentos que envolve Laura ao longo de nove anos de sua vida.
O período de quando aos 14 anos ela vê o trágico acidente com a sua amiga Nina até o seu aniversário de 23 anos, quando voltando à sua cidade natal, seu carro, que ela dirigia, é atingido por outro na estrada numa noite de chuva.
Esse sentimento atinge o leitor a cada capítulo e se torna difícil conter as lágrimas. O relato não é apenas um convite a se ter compaixão de Laura, a narradora. É um puxão para dentro dela. Não há opção ao leitor a não ser vivenciar sua angústia.
O romance é um relato. Não é um tratado, nem tese e muito menos um ensaio sobre a partida súbita, o luto, a culpa. É isso que faz de “Eu só queria que você voltasse” um romance.
Eu gostei muito de ler, mas senti falta das outras vozes personagens da história. São pessoas que falam através da Laura, se expressam, mas ainda assim pelo filtro da narradora. Gostaria de saber o que sentem como sei o que Laura sente. O que Nina sente (há o uso do Diário, mas pouco explorado)? O que sente o motociclista? O que sente o motorista? O que sentem os pais (são dois que perderam suas filhas a filha). O bom da ficção é que todos os lados podem ter voz. Não é uma reportagem.
Mas isso não torna o livro ruim. É um bom romance. Ele ajuda a construir a literatura brasileira contemporânea focada na vida comum, de pessoas do cotidiano, sem fantasiar a realidade. Sem defesas ideológicas. Sem pregação religiosa. Sem mascarar o que se é.
Fora a história, “Eu só queria que você voltasse” é praticamente um livro artesanal. Débora Porto é a autora, editora, capista e vendedora de sua obra.
Na Casa Gueto, na Flip 24, eu pedi a vendedora que me indicasse romances de sua banca. Ela me deu três livros e eu escolhi “Eu só queria que você voltasse”. Apenas então ela me disse: Eu sou a autora, de um modo bastante tímido. Lhe pedi um autógrafo. O livro é da editora Polifonia, selo Escritoras Brasileiras.
PS – Fichamento é um projeto que comecei em janeiro deste 2024 com a intenção de compartilhar com meu leitor minhas leituras.
No ano passado eu havia lido trinta romances. No ano anterior, 23… Ler é algo íntimo, mas a impressão do que se leu pode se compartilhar. Não é crítica literária. Não é elogio. É apenas um modo de organização.
Leio o que garimpo em sebos, mas não apenas esses livros.