O critério para eu ter chegado ao livro Botchan, que significa “jovem mestre” em japonês e isso o leitor fica sabendo logo nas primeiras páginas do romance, é o fato do autor, Natsume Soseki, ter nascido exatamente 100 anos antes que eu. Ele é de 1867 e eu de 1967. Isso não significa nada, mas fatos como esse sempre me chamam a atenção.
Embora seja um critério absolutamente esdrúxulo para a escolha de um livro a ser lido, o fato é que cheguei num autor que dificilmente iria chegar, pois não há divulgação alguma em torno dele. Pode ser que tenha havido.
Nos dias atuais, muitos escolhem seus livros, os que vão ler, não pelas palavras escritas dentro dele, mas pelo que se comenta da obra. Ou seja, são lidos os de melhor marketing: promoção, comentários, dicas… Há uma indústria do papel em formato livro onde a história e o autor pouco ou quase nada importam.
Botchan importa. É uma história escrita nos primeiros anos do século 20 que segue absolutamente atual neste século 21.
O enredo é simples: Um casal tem dois filhos. A mãe prefere o mais velho e o pai considera o mais novo inútil. A mãe morre. Logo depois o pai também morre. O irmão mais velho divide a herança e o mais novo com o dinheiro decide se diplomar e sem muito critério escolhe a Faculdade de Física.
É esse irmão quem narra sua saga ao se mudar ao interior para lecionar Matemática numa escola ginasial quando tinha 23 anos de idade. Todos os transtornos dessa mudança de uma metrópole como Tóquio para um vilarejo são apresentados ao leitor: Curiosidade, inveja, falsa amizade, confiança, honra…
O choque cultural é o pano de fundo do livro, a falta de habilidade social, outro. É um jovem seco no trato com os outros. É direto em suas argumentações. É mimado.
Situações que se mantêm nos dias de hoje apesar de toda tecnologia e redes sociais.
O protagonista do livro é um aprendiz de adulto.
Gostei da minha escolha por este livro ainda mais por ele me aproximar um bocado mais de uma cultura que tanto me atrai, como a japonesa. Quando adolescente eu namorei uma japonesa, jogava tênis com japoneses, a dança butô me interessava, o cinema (Akira Kurosawa, em particular) me apaixona e a comida me delicia.