“30 Dias em Sidney – um relato desvairadamente distorcido” é o título do livro de Peter Carey, premiado autor australiano de ficção, para a coleção O Escritor e a Cidade, no Brasil, publicado pela Companhia das Letras.
A coleção tem a pretensão de ser o mapa de algumas conhecidas cidades do mundo “desenhado” por escritores ainda vivos na virada do século 20 para o 21. Este foi publicado aqui em 2001.
Relutava há anos em ler este livro. Mas após concluída a leitura vejo que não há motivo para tal relutância. Não se trata de uma obra prima. Mas está longe de ser uma porcaria.
O livro é como se você contasse sobre o lugar que você viveu a alguém interessado nesse lugar. O que você diria?
Peter Carey falou do quanto o Fogo, Terra, Água e Ar são determinantes para Sidney ser o que é a partir dos grandes ventos, dos incêndios gigantescos, da vida marítima de seus habitantes e da ocupação do solo quase sempre infértil.
Fala do caráter do cidadão de Sidney e o seu senso de amizade. Aborda a dívida ainda não paga com os povos primitivos australianos e o quanto ainda hoje é explorada a imagem dos aborígenes e outros povos nativos.
Fico pensando em um autor sorocabano a falar da cidade como Peter Carey falou de Sidney. Me ocorre Modesto Carone, já falecido. De alguma forma, “Resumo de Ana” é um retrato da Sorocaba do século 19 e de como o imigrante ocupava espaço, a ascensão e queda social, os casamentos arranjados. É, sem dúvida, um dos meus livros preferidos. Mas o que diria Carone deste século 21?
Não vi nenhum outro livro desta coleção, embora, confesso, não tenha procurado. Escolher “30 Dias em Sidney”, certamente, tem relação estreita com meu inconsciente uma vez que a cidade, assim como Sorocaba, está na linha do Trópico de Capricórnio, que sei tratar de uma orientação climática, delimitando a zona tropical do planeta. Desde criança, porém, me fascina saber que nasci no mesmo paralelo de países africanos e da Oceania. Não me lembro de ter lido outro autor australiano.
Gostei deste livro.