Saga, em literatura, refere-se a histórias narradas em prosa, nos séculos 18 e 19, originárias sobretudo da Islândia medieval, mas também de outros países nórdicos. Estas narrativas, geralmente anônimas, misturam aspetos históricos com mitologia e religião. É sobre a trajetória vitoriosa de uma personagem, quase sempre um herói. Nem que seja um herói da moral.
Pois “Barba ensopada de sangue”, título de um romance do escritor gaúcho Daniel Galera, publicado em 2012, pode ser visto assim. Não que o tema esteja relacionado à Islândia medieval. Mas na essência do que é narrado neste século 21 com o que era narrado nos 18 e 19.
Eu vejo o livro com saga!
O livro é dividido em três partes.
Na primeira delas as personagens são apresentadas ao leitor e com eles as problemáticas da jornada do herói: Um pai, perto dos 70 anos, um pouco menos, conta ao filho caçula, de 34 anos (essa idade é revelada), quem foi seu pai (portanto o avô deste caçula). Esse avô foi um selvagem que teria sido assassinado em Garopaba (SC). O pai também anuncia que vai se matar no dia seguinte e convence este filho a não fazer nada a respeito a não ser que cuide de sua fiel cachorra. Ficamos sabendo que o caçula tem uma mãe, divorciada do pai, e de um irmão mais velho que o caçula odeia. O ódio latente entre eles é tema do livro todo, até a página final, de número 422.
Na segunda parte da narrativa, ou da saga, o filho caçula se muda para a cidade onde o avô teria sido morto. Outros aspectos da personalidade deste filho, querido professor de natação e ex-campeão de triathlon, vão sendo descobertas. Sua honestidade, lealdade, generosidade. Elementos que fazem dele um homem bom. Elementos da narrativa não explicam o ódio fratricida desta boa pessoa, porém. Ao final desta segunda parte, o mistério do avô é revelado com o autor recorrendo a elementos místicos para alcançar sua intenção de revelar quem foi este homem. É um capítulo com muita ação e romances. Fosse um livro à parte e alguém poderia classificá-lo de infantojuvenil.
Por fim, na terceira e última parte, é desvendado todo o ódio dele para com o irmão mais velho. Há uma tese sociológica sobre o que é perdoar. Então, reveladas as respostas das problemáticas apresentadas na primeira parte, o livro acaba…
O arco narrativo, para quem se interessa pela arquitetura do romance, está explícito neste “Barba ensopada de sangue”. Galera é dos autores brasileiros mais premiados. Dezenas de países compraram os direitos autorais de seus livros. Este “Barba ensopada de sangue” foi adaptado para o cinema. Galera é chamado para diversas feiras e eventos literários e editado pelas maiores editoras do país.
Galera é o que se pode chamar de escritor de sucesso.