Este texto não é só sobre seo Sydnei

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Quando o seo Sidney foi preso semana atrás, tive o gostinho de dizer: Eu sabia! Embora não soubesse nada. Foi tão somente a confirmação da primeira impressão, àquela de Oscar Wilde, que tive dele.

Seo Sidney é o tipo de pessoa, tipo no sentido de estereótipo, de aparência, “de fachada”, como diria minha mãe quando ela queria expressar persona este termo bastante comum no teatro, no marketing, e difícil de explicar por sua complexidade filosófica. E que nunca fez parte do vocabulário de minha mãe. Estou certo que ela nunca ouviu este termo e, se ouviu, o entendeu como personalidade.

Enfim, a persona (algo como representação semi-fictícia de alguém) do seo Sidney de alguém idealizado para ser aceito pelo público-alvo/cliente na vida real (aquele que compra o que ele vende) sempre me deu a sensação de se tratar de um farsante. Aquele tipo que ilude os que vivem na ignorância.

Seo Sidney se postava como um rei, guerreiro, na sua comunicação. Seo Sidney agia como o político no palco do seu comício virtual ou não. Poderia facilmente ser um deles.

Seo Sidney, o vi pela primeira vez patrocinando os extintos programas da Inezita Barroso e Rolando Boldrim na TV Cultura, que eu assistia aos domingos de manhã com minha mãe (ela era fã dos dois ou dos três?), sempre me incomodou.

Só o conhecia da tela. E eu falava a mim mesmo: Não sei, esse cara tem alguma coisa que não bate com quem ele demonstra ser. Ele não me engana, pensava comigo.

Mas não me enganar não significa absolutamente nada. Não me agradar, então, menos ainda. Nunca eu estive do lado vencedor em praticamente nada ao longo de minha vida. Os filmes de sucesso de bilheteria, por exemplo, eram os que menos eu gostava. Um dos meus irmãos, um dia, me falou: Assistiu tal filme? Eu respondi, sim. Gostou? Uma porcaria. Então eu vou ver, ele me dizia, se você não gostou deve ser bom.

Uma ex-mulher minha insistia em dizer que eu era do contra. Talvez ela também estivesse com a razão. 

Na verdade, eu gostaria de ser como “todo mundo”. Acho, não sei, que deve ser menos solitário. Tipo agora, com o episódio do seo Sidney. Ao invés de dizer “eu sabia” teria me expressado: “Nossa, você viu seo Sidney, foi preso!”. “Um homem tão bom, vendia o remédio mais barato pra gente”. “Será que o remédio vai subir?”

Parece que há um bloqueio mental nas pessoas para entender a persona como a do seo Sidney. Não adianta dizer que ele é um criminoso que usou a própria mãe para tentar esconder um aumento de patrimônio, que em quatro anos pulou de 400 mil para 2 bilhões de reais. Elas acreditam que isso é “fruto” do seu trabalho. Elas nem conseguem refletir: Eu também trabalho porque não fico rico igual ao seo Sidney?

Aliás, são pessoas que conseguem dizer “bastante pouca” coisa. Essa expressão do coloquial da língua portuguesa é bem comum, aliás. Bastante pouca… Acho que embora bastante contraditória é a expressão exata do que o falante deseja dizer.

Não sei qual será o futuro do seo Sidney e sua rede de farmácia, mas no que depender de seus clientes, nada. Eles seguirão indo lá para sua compra de remédios. Eu, que nunca entrei numa Ultrafarma, seguirei sem entrar. Acho que seo Sidney também prefere que seja assim: Gente como eu bem longe dele. Certamente se ele me conhecesse faria mau-juízo de mim. Me colocaria algum estereótipo de fácil compreensão de seus seguidores, algo como “vermelho”. É o jeito que gente como ele encontrou para proteger seu “modo de vida”.

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