Musse Stefan (29/11/1957 – 20/08/2017) estava animado com a transformação que tinha programado de fazer na Supermercearia São Bento – referência em produtos importados no ramo de gastronomia e bebidas finas de Sorocaba – quatro meses atrás quando me encontrei com ele pela última vez, no próprio restaurante. Aliás, perguntei para sua irmã, Márcia, o que estavam programando e ela me falou: Mussinho está vindo e ele te conta tudo, está animado com sua nova criação.
Mussinho me contou rapidamente que a supermercearia havia perdido a competitividade de preços e produto importado há tempos já havia deixado de ser novidade e que eles iriam ampliar o espaço de restaurante (sempre havia filas) e destinar áreas para barracas gourmet, ou seja, a quem quisesse vender seus produtos desde que atendessem aos quesitos de qualidade na comida. Seria uma espécie de shopping de restaurantes. Aquela pessoa que faz o melhor prato teria seu espaço ali, fosse uma batata frita, hambúrguer, macarronada, sushi, pipoca, algodão-doce…
Era o mês de abril e Mussinho já sentia uma forte dor de cabeça que não passava. O médico achou melhor interná-lo no Sírio-Libanês e nunca mais ele deixou o hospital até domingo, quando descansou. No caso dele, este termo não é um clichê. Foram 4 cirurgias na cabeça e um sofrimento surpreendente para quem viveu feliz.
Visionário, Mussinho idealizou nos anos 80 o Piano, Bar e Restaurante Arcobaleno (arco-íris em italiano).
Só me dei conta do que isso significou na vida de Sorocaba quando Alexandre Gusmão se mudou para a cidade, trinta anos atrás, para dirigir a TV Aliança Paulista, empresa da Família de Roberto Marinho, uma filial da Rede Globo, que anos depois foi vendida ao empresário J.Hawilla e se tornou a TV Tem, como ainda é hoje. Gusmão falava do Arcobaleno com entusiasmo e do quanto visionário era aquele espaço para uma cidade do interior do Brasil. Casa parecida com o Arcobaleno, me dizia Gusmão, eram vistas em Nova York, Rio de Janeiro e São Paulo.
Mussinho era arquiteto e fez carreira na sua profissão com projetos em diferentes cidades, como São Paulo, por exemplo. Mas foi em Sorocaba que consolidou sua carreira tendo feito aqui o seu último trabalho, a casa do empresário Sérgio Reze.
Mussinho integrou a Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Sorocaba, o núcleo local do Instituto de Arquitetos do Brasil e fez acontecer a “Oscar Freire sorocabana”, junção das ruas da Penha e Arthur Gomes, no centro.
Mussinho não teve filhos, nunca se casou e dedicou a vida a cuidar da mãe, dona Norma (que terá de enfrentar a perda do filho), do seo Mussi (Moyses), seu pai, um libanês que se dedicou com prazer a vida inteira ao comércio. A irmã, Márcia, era uma referência em sua vida. Outra referência eram os amigos. Seu velório na Ofebas hoje demonstrou isso. Políticos, empresários, artistas, jornalistas, delegados passaram por lá para se despedir e dar um abraço na família. Fica a lembrança e o respeito.